Encontramo-lo também, coisa estranha, nas salas barulhentas _ pois de todo esse silêncio jorram os sons que ele trazia na alma _, salas onde se reúnem muitos homens, uns para ouvir e fruir, outros para se entregarem a trabalhos manuais. Destes, uns cortam visceras de carneiro, fazem-na roncar como um volante de fábricar ou sussurrar como a asa de um pernilongo; outros fazem tubos gemerem e suspirarem. Ele próprio, com uma vareta na mão, dirige a equipe desses trabalhadores cuja tarefa é dar uma espécie de corporeidade transitória, uma presença sensível e lábil as ideias de suas vigílias...
Assim, a obra, ora reside em sua alma à maneira de um sonho, ora realiza-se em vibrações organizadas, abalando a atmosfera da sala; depois se esvanece a cochila na grafia embalsamada das partituras para ressuscitar de novo nos aposentos em que canta um piano, nas salas de concerto, nos estúdios que emitem ondas, segundo uma espécie de cerimônia teofânica de que o músico se limitou a escrever o ritual."
( Étienne Souriau, 1892)

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