nietzsche, Friedrich. Sobre a verdade e a mentira no sentido extra-moral. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 43-52.
“[...] se pudéssemos entendermos com a mosca, perceberíamos então que também ela boia no ar com esse pathos e sente em si o centro voante deste mundo. Não há nada tão desprezível e mesquinho na natureza que, com um pequeno sopro daquela força do conhecimento, não transbordasse logo como um odre [...] mesmo o filósofo, pensa ver por todos os lados os olhos do universo telescopicamente em mira sobre seu agir e pensar [...]” (p. 45)
“O intelecto como meio de conservação do indivíduo [...] se conserva, àqueles aos quais esta vedada a luta pela existência com chifres ou presas aguçadas” (p. 45)
“[...] mas porque o homem, ao mesmo tempo por necessidade ou tédio quer existir socialmente e em rebanho [...] pelo menos a máxima bellum omnium contra omnes desapareça deste mundo [...] agora com efeito é fixado aquilo que doravante deve ser “verdade”, isto é, é descoberta uma designação uniformemente válida e obrigatória das coisas, e a legislação da verdade dá também as primeiras leis da verdade: pois surge aqui pela primeira vez o contraste entre a verdade e a mentira [...] deseja as consequências da verdade que são agradáveis e conservam a vida; diante do conhecimento puro o “homem” é indiferente, diante das verdades talvez perniciosas e destrutivas ele tem disposição até mesmo hostil [..]” (p.46)
“[...] somente por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a supor que possui uma “verdade” [...] as diferentes línguas colocadas lado a lado, mostram que nas palavras nunca importa a verdade, nunca uma expressão adequada: pois senão haveria tantas línguas [...]” (p.47)
“[...] toda palavra torna-se logo conceito quando não deve servir, como recordação, para a vivência primitiva, completamente individualizada e única, à qual deve seu surgimento, mas ao mesmo tempo tem de convir a um sem número de casos, mais ou menos semelhantes, isto é, tomados rigorosamente, nunca iguais, portanto, os casos claramente desiguais [...]” (p. 48)
“O que é verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismo, enfim uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu o que são, metáforas que se tornaram gostos e sem força sensível [...].” (p. 48)
“[...] pois até agora só ouvimos falar da obrigação que a sociedade, para existir, estabelece: de dizer a verdade, isto é, de usar as metáforas usuais, portanto, expresso moralmente: da obrigação de mentir segundo convenção sólida, mentir em rebanho, em um estilo obrigatório para todos [...].” (p. 48)
“[...] quando alguém esconde uma coisa atrás de um arbusto, vai procurar ali mesmo e a encontra, não há muito que gabar nesse procurar e encontrar: é assim que se passa com o procurar e encontrar a “verdade” no interior do distrito da razão [...]” (p. 50)
“[...] esse impulso à formação de metáforas, esse impulso fundamental do homem, que não pode deixar levar em conta nem por um instante, porque com isso o homem mesmo não seria levado em conta, quando se constrói para ele, a partir de suas criaturas liquefeitas, os conceitos, um novo mundo regular e rígido como uma praça forte, nem por isso, na verdade, ele é subjugado e mal refreado [...] Pascal tinha razão quando afirma que se todas as noites nos viesse o mesmo sonho, ficaríamos tão ocupados comele como as coisas que vemos cada dia [...]” (fls. 50)
“[...] há épocas em que o homem racional e o homem intuitivo ficam lado a lado, um com medo da intuição, o outro escarnecendo da abstração, este último é tão irracional quando o primeiro é inartístico. Ambos desejam ter o domínio sobre a vida [...]” (p. 23)
Leandro Moreira da Luz é economista e aluno do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão - PARANÁ – período 1/2013.

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