quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

FICHAMENTO: OS PENSADORES ORIGINÁRIOS


leão, Emanuel Carneiro (introdução). LEÃO, Emanuel Carneiro e WRUBLEWSKI, Sério (Tradução).  Os Pensadores originários: Anaximandro, Parmênides e Heráclito. Petrópulis, Rio de Janeiro: Vozes, 1991.



“Originários são os pensadores que, no que pensam, sempre encontram a realidade dando a origem em tudo.” (p. 01)



O autor intitula como sendo “pensadores originários”: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Zenão e Xenófanes, Heráclito e Parmênides, que viveram entre os fins do séc. VII a.C. Para não intitulá-los, como já foram chamados, de Pré-socráticos, Pré-platônicos e Pré-aristotélicos. Pois esse título os coloca, de maneira preconceituosa, como inferiores em relação aos pensadores posteriores. O autor, coloca estes pensadores originários como a maior relíquia no museu do Ocidente e não tinham haver com Sócrates, já que estes pensavam na Arche.  (p.1 a 3)


Porque chamá-los “pré-socráticos”

Usando a filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles para medir o nível filosófico de todos os gregos de antes e depois da metade do século V. Busca-se reconstituir a lógica, a ética e a física arcaica sem levar em consideração que só há uma ética, uma lógica e uma física. Não se permite que os primeiros pensadores sejam pensadores, e sim, filósofos. Por isso mesmo só podem ser pré-socráticos, platônicos e aristotélicos ainda que seja de uma forma primitiva. Assim, nestes títulos o “pré” não possui apenas o sentido cronológico mas, sobretudo, axiomático. É um axioma de implantação da filosofia na decadência do pensamento.  (p. 8)


“O pensamento, senão pensando”

“As palavras e os textos são funções do pensamento, como este é função do que, provocando pensar, o torna possível como pensamento [...] por isso a História do pensamento é uma tarefa exclusiva de pensadores [...] Neste sentido a presente investigação não quer ser uma obra de historiografia filosófica. Pretende levar a sério que os primeiros pensadores são pensadores e não filósofos [...] Pois de que outra maneira poder-se-ia aprender-lhes o pensamento senão pensando?” (p. 9)


Por que é difícil entender os pensadores originários?

É difícil para nós entender os originários, em muito pelo tempo que nos separa (2500 anos); da decadência planetária de pensamento em que hoje vivemos sabendo que eles estavam na ascendência do pensamento: “Os primeiros atenienses renunciaram sua avalanche histórica”; Por eles praticarem o ócio e nós praticarmos o negócio: “para nós, filhos do petróleo e da técnica, tardos em pensar, se tornou ainda mais difícil esse mistério da identidade numa época de poluição e de consumo [...] absorvidos pelas solicitações do consumo, quase não pensamos, mas sobretudo porque quando pensamos, quase inevitavelmente o fazemos nos moldes da filosofia e da ciência.” Para nós o pensamento tornou-se inútil. “Realmente pensar é contraproducente, caso já esteja resolvido que o coração é apenas uma bomba e o homem, um tubo digestivo com entrada e saída.” Para os primeiros pensadores pensar é acordar o não pensado, acionar a inércia do pensamento de uma tradição histórica. “Trágico é abandono desesperado do homem às forças da natureza, à vontade dos deuses, à fatalidade do destino. Onde impera a desolação, onde não há salvação humana possível, há tragédia”, e nós uma visão teleológica: “[...] tudo que lhe parece sem saída, possui um desígnio de salvação na sabedoria, na bondade e na justiça de Deus. Sempre que se crê numa salvação (seja por qualquer parte) [...] a existência perde os acentos trágicos [...]” (p.10)


O que a nossa ciência pode auxiliar na compreensão do pensamento originário?

A nossa ciência moderna pode auxiliar na compreensão do pensamento originário apenas nas fontes, na matéria prima do pensamento (a filologia: a ciência das línguas, linguística, por exemplo) (p. 10)


“A consciência de poesia, de mito, de política, de educação, e de culto que reinava no século VI a.C., prende-se a esse sentido humano de tragédia” Para os primeiros pensadores o paradigma de Paidéia, estórias profundas de deuses e heróis, etc. Não atingem a tragédia originária. “Trata-se de uma papo-digma, reflete no país dos homens o embate misterioso do poder da physis, mas sem poder pensá-la como physis.”  (p. 11)


“A hermenêutica originária exige despojarmos de tudo quanto julgamos saber sobre o pensamento dos primeiros gregos. O que geralmente julgamos saber, advêm-nos da tradição platônico-aristotélica: os primeiros pensadores, quando perguntavam pelos princípios da realidade, tomavam por objeto de especulação, sobretudo a natureza. Nos termos aristotélicos, eram Physikoy [...]” (p. 16 )


“O pensamento originário é a coragem de descer às raízes das próprias possibilidades de pensar. Um pensamento originário é um pensamento radical. Procura interpretar os modos de ser da realidade, restituindo as estruturas de suas diferenças à identidade do mistério [...]” (p. 16)


“Fragmentos” (p. 17)


“Muito frequentemente se pressupõe que os fragmentos sejam fragmento de pensamento, como nos trechos deteriorados de um papiro, onde se impõe um trabalho paciente de bricolagem.” Os fragmentos podem ser causais ou intencionais: causais quando citam o pensador e que o pensador dizia e, intencionais quando cita o pensador originário sem o nome e sem as mesmas palavras. (p. 18)


Formato dos textos antigos

São volumina, no sentido literal do termo, isto é, manuscritos enrolados, de peso e tamanho consideráveis para o manuseio. Cedo se espalhou o costume de substituir os grossos volumina, por compedia, extratos e resumos, muito mais fáceis de compulsar [...]” (p. 18)


“[...] Por fim, os modos de citar dos antigos gregos é bem diferente do moderno. Um escrito grego nunca inicia uma citação diretamente, indicando onde começam e onde terminam as palavras do autor citado. Para o costume grego, citar e tecer palavras originais num novo contexto, tornando assim muito mais difícil discernir o início e o fim do original [...]”


“Em suas preleções sobre a história da Filosofia, diz Hegel das fontes de acesso aos primeiros pensadores gregos: [...] Aristóteles é a fonte mais rica. Estudo expressa e profundamente os filósofos mais antigos e falou deles, em sequência histórica, sobretudo no início de sua Metafísica (muitas vezes também em outros lugares). É tão filósofo como erudito, podemo-nos fiar dele. Para a filosofia grega, não há nada melhor pra fazer do que tomar o primeiro livro da sua Metafísica.” (p. 19)


Teofrasto

“Teofrasto foi discípulo e sucessor imediato do filósofo Aristóteles na direção de Peripatos. Teofrasto, de Ereso na ilha de Lesbos, morreu pelo ano de 286 a.C. De seus escritos o mais importante é A Opinião dos Físicos. Em 16 ou 18 livros, é um tratado sistemático das doutrinas antigas sobre os principais problemas da filosofia. Como historiador e não filósofo, Teofrasto seria mais objetivo em estar isento do defeito de pensar e assim deixou a desejar quanto a obra de Aristóteles. Muitas vezes os testemunhos de Teofrasto se transformam num emaranhado de confusão e contradição.” (p. 20)


Afora Platão, Aristóteles e Teofrasto, os principais comentadores dos pensadores originários são: Filodemo, 60 a.C. Pertencia à escola de Epicuro; Estevão, aproximadamente 58 a.C./21 e 25 d.C. Da mesma escola estoica posterior; Plutarco de Queronéia, viveu de 45 a 125 d.C. da Academia Média; Sexto Empírico, metade do segundo século; Aécio, provavelmente do século segundo; Clemente de Alexandria, viveu de 160 a 220; Hipólito de Roma, viveu no temo de Calixto I. Orígenes de Alexandria 185 a 254; Ateneu, viveu pelo ano de 200;  Plotino (203 a 270); Porfírio de Tiro (232 a 304); Diógenes Laércio, nasceu por 330; Proclo, nasceu em Constantinopla em 410; João Estobeu, antologista do quinto século; e Simplício, nasceu na Cilícia pelo ano 500. (p. 24 a 27)


Trabalhos atuais que servem de referência para se estudar os originários

A primeira coleção que procurou reunir todos os fragmentos dos primeiros pensadores gregos, remonta a segunda metade do século IXX. Deve-se a Fr. W. Mullack. A obra tem por título: Fragmenta Philosophorum Graecorum, collegit, recensuit, vertit, annotationibus et prolegomenis illustravit, indicibus instruit Fr. Guil. Aug. Mullachius. Editoribus Firmin Didot et Sociis, Instituti Francici Typographis, Via Jacob, 56, Pasisiis, MKCCCLX, MDCCCXVII, MDCCCLXXXI. (p. 28)


No começo do século passado (séc. XX) Hermann Diels cordenou uma coleção de fragmentos, intitulada: Poetarum Philosophorum Fragmenta, Berlim, 1901, voluminis tertii fascículos prior: Poetarum Graecorum Fragmenta, auctore Udalrico de Wilamowitz-Moellendorff collect et edita. Esta contém os fragmentos de Tales, Cleostrato, Xenófanes, Parmênides, Empédocles, Citínio, Menecrates, Esmintes, Timão, Crates e Demétro de Bizâncio. Sendo estes editados cuidadosamente, providos de aparato crítico e exegético com dois índices remissivos, um de nomes outro de termos. (p. 28)


Uma coleção completa de todos os fragmentos dos primeiros pensadores foi elaborada por Hermann Diels em: Die Fragment der Vorsokratiker, Grriechich-Deutsch in 2 baendem, Berlim, Weikamnn, 1903. (fls. 29)


Textos dos primeiros pensadores se encontram ainda nas seguintes coleções de fragmento: Fragmenta Historicorum Graecorum, collegit, disposuit, notis et prolegomenis illustrativ Carolus Muellerus. Quinque volumina, Parisiis, 1841-1870. Trata-se de uma coleção antiquada, hoje substituída pela coleção crítica.


Anaximandro “Fragmento”

“De onde provêm as realizações, retornam também as desrealizações: pois, de acordo com o vigor da consignação, elas concedem umas às outras articulações e, com isto, também, considerações pela desarticulação, de acordo com o estatuto do tempo.” (p. 39)


Isto é, de onde provêm tudo que existe em nosso mundo, tudo que nasce, retorna também tudo que se acaba, tudo que morre: pois de acordo com o vigor da ligação entre as duas coisas, elas concedem motivo de acontecer uma a outra, com isto, também a consideração pelo não acontecer delas, de acordo com a passagem da própria vida do planeta. (p. 39)


Parmênides “Fragmento”

“O comum é dado, de onde sempre inicio, pois para lá eu irei retornar de novo”

 Isto é, a resposta é dada da origem das coisas, pois para lá eu irei retornar de novo. (p. 47)


Fragmento VIII

Uma única fala do caminho permanece: na cercania desta caminho são muitos acenos; o ente é ingênito e também incorruptível, pois é íntegro e inquebrantável, em verdade ilimitado; também não era outrora, nem será, porque é agora todo do mesmo uno, contido; pois que origem disto irás sondar? De onde e para onde ele tem surgido? Também não te permitirei trazer à fala nem perscrutar o surgir a partir do não-ente, pois não pode ser trazido à fala nem perscrutado o que não é; que necessidade também teria movido o ente a, principiando antes ou depois a partir do nada vir a ser? Assim a necessidade necessita ser toda ou não ser.


Também em vigor confiante não admitirá então que a partir do não-ente suja algo junto dele. Por isto dike – soltando-se para as cadeias – admitiu nem o surgir nem o perecer, mas mantém firme a decisão acerca dessas coisas nisto é: é ou não é; tem sido decidido então, como a necessidade determina, deixar um caminho como imperscrutável e inominável (pois ele não é um caminho relevante); o outro de tal maneira a ser e a ser genuíno. Como então poderia o ente perecer, como poderia vir a ser? Pois se surgiu, não é e também não é, se alguma vez apenas no futuro será. Assim o vir-a-ser tem se desvanecido e o perecer tem se tornado insondável.


Também não é divisível, porque é totalmente do mesmo vigor; também não é aqui ou lá um ente superior ou inferior, o que de alguma maneira o impediria de ater-se, mas é antes totalmente pleno no ente; no estar contido (o ente) é todo; pios o ente se acerca do ente.


Nisto sendo imóvel, é ingênito e infindo nos limites das grandes cadeias; portanto a gênesis e o perecer tem se extraviado longe, a confiança desvelante no entanto os rejeitou. Como o mesmo e no mesmo permanecendo, repousa por si mesmo e desta maneira permanece inabalável lá, pois a vigorosa necessidade o mantém nas cadeias do limite, o qual o coloca em sua própria necessidade ambivalência; por causa disto é determinação que o ente não pode ser ilimitado; pois é carente; o ente, pois não anelaria o todo? O mesmo é pensar e graças ao que é o pensamento; pois sem o ente, no qual o que é trazido a fala é, não encontrarás o pensar: pois nada é ou será algo do que tudo será nome, o que mortais fixaram, acreditando ser verdadeiro, o vir-a-ser e o perecer, ser e não ser, alterar o lugar e mudar o que parece por causa das cores; mas porque é um limite transcendente, é a presença plenificada em toda a parte, semelhante à massividade de uma esfera bem plena, presença conquistada pelo mesmo vigor a partir do meio na totalidade, pois é necessário que o ser não seja aqui ou lá nem algo mais forte nem algo mais fraco. Pois também não é o ente, o que de alguma maneira impediria de chegar ao mesmo, nem o ente, que pertenceria a uma ente lá superior ou lá inferior, porque como todo, é íntegro, pois ai é idêntico de toda parte e se acha integralmente nos limites.


Nisto termino para ti a fala confiante como ponderação da ambivalência da verdade, a partir disto aprende no entanto (sempre de novo) as opiniões dos mortais, escutando o cosmo inventivo das minhas palavras.


Pois eles colocaram formas de nomear dois sentidos – deles um não é necessário – no que eles têm estado vagantes.


Eles escolheram a antigonia e colocaram formações e indicações separadas uma das outras, de um lado o fogo etérico em brasa, sendo suave grande vigoroso, de toda a parte idêntico a si mesmo, como os outros não idêntico; então também de outro lado, aquele por si mesmo, antigonia ambissal da noite, uma formação densa e substancial. Eu trago à fala a ti todas as coisas como o universo na incandescência do desvelamento: que jamais algum dia  algum conhecimento dos mortais te transforme alienando.


Heráclito

Fragmento 7

Se todas as coisas se transformassem em fumaça, o nariz é que as distinguiria. (p. 61)

Isto é, se todas as coisas fossem simples de evidenciar, qualquer um saberia fazê-lo.


Fragmento 62

Imortais mortais, mortais imortais, vivendo a morte dos outros, morrendo a vida dos outros.

Isto é, no meu ver, ele fala dos filósofos que acham estar acima de um simples mortal, ao menos no ato de pensar. Que discutem os problemas que são de todos.

          
Leandro Moreira da Luz é economista e aluno do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão - PARANÁ – período 1/2013.


           

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