leão, Emanuel
Carneiro (introdução). LEÃO, Emanuel Carneiro e WRUBLEWSKI, Sério (Tradução). Os Pensadores originários: Anaximandro,
Parmênides e Heráclito. Petrópulis, Rio de Janeiro: Vozes, 1991.
“Originários
são os pensadores que, no que pensam, sempre encontram a realidade dando a
origem em tudo.” (p. 01)
O autor
intitula como sendo “pensadores originários”: Tales, Anaximandro, Anaxímenes,
Zenão e Xenófanes, Heráclito e Parmênides, que viveram entre os fins do séc.
VII a.C. Para não intitulá-los, como já foram chamados, de Pré-socráticos,
Pré-platônicos e Pré-aristotélicos. Pois esse título os coloca, de maneira
preconceituosa, como inferiores em relação aos pensadores posteriores. O autor,
coloca estes pensadores originários como a maior relíquia no museu do Ocidente
e não tinham haver com Sócrates, já que estes pensavam na Arche. (p.1 a 3)
Porque chamá-los “pré-socráticos”
Usando a
filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles para medir o nível filosófico de
todos os gregos de antes e depois da metade do século V. Busca-se reconstituir
a lógica, a ética e a física arcaica sem levar em consideração que só há uma
ética, uma lógica e uma física. Não se permite que os primeiros pensadores
sejam pensadores, e sim, filósofos. Por isso mesmo só podem ser pré-socráticos,
platônicos e aristotélicos ainda que seja de uma forma primitiva. Assim, nestes
títulos o “pré” não possui apenas o sentido cronológico mas, sobretudo,
axiomático. É um axioma de implantação da filosofia na decadência do
pensamento. (p. 8)
“O pensamento, senão pensando”
“As palavras
e os textos são funções do pensamento, como este é função do que, provocando
pensar, o torna possível como pensamento [...] por isso a História do
pensamento é uma tarefa exclusiva de pensadores [...] Neste sentido a presente
investigação não quer ser uma obra de historiografia filosófica. Pretende levar
a sério que os primeiros pensadores são pensadores e não filósofos [...] Pois de que outra maneira poder-se-ia aprender-lhes o pensamento senão pensando?” (p.
9)
Por que é difícil entender os pensadores
originários?
É difícil
para nós entender os originários, em muito pelo tempo que nos separa (2500
anos); da decadência planetária de pensamento em que hoje vivemos sabendo que
eles estavam na ascendência do pensamento: “Os primeiros atenienses renunciaram
sua avalanche histórica”; Por eles praticarem o ócio e nós praticarmos o
negócio: “para nós, filhos do petróleo e da técnica, tardos em pensar, se
tornou ainda mais difícil esse mistério da identidade numa época de poluição e
de consumo [...] absorvidos pelas solicitações do consumo, quase não pensamos,
mas sobretudo porque quando pensamos, quase inevitavelmente o fazemos nos
moldes da filosofia e da ciência.” Para nós o pensamento tornou-se inútil.
“Realmente pensar é contraproducente, caso já esteja resolvido que o coração é
apenas uma bomba e o homem, um tubo digestivo com entrada e saída.” Para os
primeiros pensadores pensar é acordar o não pensado, acionar a inércia do
pensamento de uma tradição histórica. “Trágico é abandono desesperado do homem
às forças da natureza, à vontade dos deuses, à fatalidade do destino. Onde
impera a desolação, onde não há salvação humana possível, há tragédia”, e nós
uma visão teleológica: “[...] tudo que lhe parece sem saída, possui um desígnio
de salvação na sabedoria, na bondade e na justiça de Deus. Sempre que se crê
numa salvação (seja por qualquer parte) [...] a existência perde os acentos
trágicos [...]” (p.10)
O que a nossa ciência pode auxiliar na
compreensão do pensamento originário?
A nossa
ciência moderna pode auxiliar na compreensão do pensamento originário apenas
nas fontes, na matéria prima do pensamento (a filologia: a ciência das línguas,
linguística, por exemplo) (p. 10)
“A
consciência de poesia, de mito, de política, de educação, e de culto que
reinava no século VI a.C., prende-se a esse sentido humano de tragédia” Para os
primeiros pensadores o paradigma de Paidéia, estórias profundas de deuses e
heróis, etc. Não atingem a tragédia originária. “Trata-se de uma papo-digma,
reflete no país dos homens o embate misterioso do poder da physis, mas sem
poder pensá-la como physis.” (p. 11)
“A
hermenêutica originária exige despojarmos de tudo quanto julgamos saber sobre o
pensamento dos primeiros gregos. O que geralmente julgamos saber, advêm-nos da
tradição platônico-aristotélica: os primeiros pensadores, quando perguntavam
pelos princípios da realidade, tomavam por objeto de especulação, sobretudo a
natureza. Nos termos aristotélicos, eram Physikoy [...]” (p. 16 )
“O
pensamento originário é a coragem de descer às raízes das próprias
possibilidades de pensar. Um pensamento originário é um pensamento radical.
Procura interpretar os modos de ser da realidade, restituindo as estruturas de
suas diferenças à identidade do mistério [...]” (p. 16)
“Fragmentos”
(p. 17)
“Muito
frequentemente se pressupõe que os fragmentos sejam fragmento de pensamento,
como nos trechos deteriorados de um papiro, onde se impõe um trabalho paciente
de bricolagem.” Os fragmentos podem ser causais ou intencionais: causais quando
citam o pensador e que o pensador dizia e, intencionais quando cita o pensador
originário sem o nome e sem as mesmas palavras. (p. 18)
Formato dos textos antigos
“São volumina, no sentido
literal do termo, isto é, manuscritos enrolados, de peso e tamanho
consideráveis para o manuseio. Cedo se espalhou o costume de substituir os
grossos volumina, por compedia, extratos e resumos, muito mais fáceis de
compulsar [...]” (p. 18)
“[...] Por
fim, os modos de citar dos antigos gregos é bem diferente do moderno. Um
escrito grego nunca inicia uma citação diretamente, indicando onde começam e
onde terminam as palavras do autor citado. Para o costume grego, citar e tecer
palavras originais num novo contexto, tornando assim muito mais difícil
discernir o início e o fim do original [...]”
“Em suas
preleções sobre a história da Filosofia, diz Hegel das fontes de acesso aos
primeiros pensadores gregos: [...] Aristóteles é a fonte mais rica. Estudo
expressa e profundamente os filósofos mais antigos e falou deles, em sequência
histórica, sobretudo no início de sua Metafísica (muitas vezes também em outros
lugares). É tão filósofo como erudito, podemo-nos fiar dele. Para a filosofia
grega, não há nada melhor pra fazer do que tomar o primeiro livro da sua
Metafísica.” (p. 19)
Teofrasto
“Teofrasto
foi discípulo e sucessor imediato do filósofo Aristóteles na direção de
Peripatos. Teofrasto, de Ereso na ilha de Lesbos, morreu pelo ano de 286 a.C.
De seus escritos o mais importante é A
Opinião dos Físicos. Em 16 ou 18 livros, é um tratado sistemático das
doutrinas antigas sobre os principais problemas da filosofia. Como historiador
e não filósofo, Teofrasto seria mais objetivo em estar isento do defeito de
pensar e assim deixou a desejar quanto a obra de Aristóteles. Muitas vezes os
testemunhos de Teofrasto se transformam num emaranhado de confusão e
contradição.” (p. 20)
Afora
Platão, Aristóteles e Teofrasto, os principais comentadores dos pensadores
originários são: Filodemo, 60 a.C. Pertencia à escola de Epicuro; Estevão,
aproximadamente 58 a.C./21 e 25 d.C. Da mesma escola estoica posterior;
Plutarco de Queronéia, viveu de 45 a 125 d.C. da Academia Média; Sexto
Empírico, metade do segundo século; Aécio, provavelmente do século segundo;
Clemente de Alexandria, viveu de 160 a 220; Hipólito de Roma, viveu no temo de
Calixto I. Orígenes de Alexandria 185 a 254; Ateneu, viveu pelo ano de 200; Plotino (203 a 270); Porfírio de Tiro (232 a
304); Diógenes Laércio, nasceu por 330; Proclo, nasceu em Constantinopla em
410; João Estobeu, antologista do quinto século; e Simplício, nasceu na Cilícia
pelo ano 500. (p. 24 a 27)
Trabalhos atuais que servem de referência para se estudar os originários
A primeira
coleção que procurou reunir todos os fragmentos dos primeiros pensadores
gregos, remonta a segunda metade do século IXX. Deve-se a Fr. W. Mullack. A
obra tem por título: Fragmenta
Philosophorum Graecorum, collegit, recensuit, vertit, annotationibus et
prolegomenis illustravit, indicibus instruit Fr. Guil. Aug. Mullachius.
Editoribus Firmin Didot et Sociis, Instituti Francici Typographis, Via Jacob,
56, Pasisiis, MKCCCLX, MDCCCXVII, MDCCCLXXXI. (p. 28)
No começo do
século passado (séc. XX) Hermann Diels cordenou uma coleção de fragmentos,
intitulada: Poetarum Philosophorum
Fragmenta, Berlim, 1901, voluminis tertii fascículos prior: Poetarum Graecorum
Fragmenta, auctore Udalrico de Wilamowitz-Moellendorff collect et edita. Esta
contém os fragmentos de Tales, Cleostrato, Xenófanes, Parmênides, Empédocles,
Citínio, Menecrates, Esmintes, Timão, Crates e Demétro de Bizâncio. Sendo estes
editados cuidadosamente, providos de aparato crítico e exegético com dois
índices remissivos, um de nomes outro de termos. (p. 28)
Uma coleção
completa de todos os fragmentos dos primeiros pensadores foi elaborada por
Hermann Diels em: Die Fragment der
Vorsokratiker, Grriechich-Deutsch in 2 baendem, Berlim, Weikamnn, 1903.
(fls. 29)
Textos dos
primeiros pensadores se encontram ainda nas seguintes coleções de fragmento: Fragmenta Historicorum Graecorum, collegit,
disposuit, notis et prolegomenis illustrativ Carolus Muellerus. Quinque
volumina, Parisiis, 1841-1870. Trata-se de uma coleção antiquada, hoje
substituída pela coleção crítica.
Anaximandro “Fragmento”
“De onde
provêm as realizações, retornam
também as desrealizações: pois, de acordo com o vigor da consignação, elas
concedem umas às outras articulações e, com isto, também, considerações pela
desarticulação, de acordo com o estatuto do tempo.” (p. 39)
Isto é, de
onde provêm tudo que existe em nosso mundo, tudo que nasce, retorna também tudo
que se acaba, tudo que morre: pois de acordo com o vigor da ligação entre as
duas coisas, elas concedem motivo de acontecer uma a outra, com isto, também a
consideração pelo não acontecer delas, de acordo com a passagem da própria vida
do planeta. (p. 39)
Parmênides “Fragmento”
“O comum é
dado, de onde sempre inicio, pois para lá eu irei retornar de novo”
Fragmento VIII
Uma única
fala do caminho permanece: na cercania desta caminho são muitos acenos; o ente
é ingênito e também incorruptível, pois é íntegro e inquebrantável, em verdade
ilimitado; também não era outrora, nem será, porque é agora todo do mesmo uno,
contido; pois que origem disto irás sondar? De onde e para onde ele tem
surgido? Também não te permitirei trazer à fala nem perscrutar o surgir a
partir do não-ente, pois não pode ser trazido à fala nem perscrutado o que não
é; que necessidade também teria movido o ente a, principiando antes ou depois a
partir do nada vir a ser? Assim a necessidade necessita ser toda ou não ser.
Também em
vigor confiante não admitirá então que a partir do não-ente suja algo junto
dele. Por isto dike – soltando-se para as cadeias – admitiu nem o surgir nem o
perecer, mas mantém firme a decisão acerca dessas coisas nisto é: é ou não é;
tem sido decidido então, como a necessidade determina, deixar um caminho como
imperscrutável e inominável (pois ele não é um caminho relevante); o outro de
tal maneira a ser e a ser genuíno. Como então poderia o ente perecer, como
poderia vir a ser? Pois se surgiu, não é e também não é, se alguma vez apenas
no futuro será. Assim o vir-a-ser tem se desvanecido e o perecer tem se tornado
insondável.
Também não é
divisível, porque é totalmente do mesmo vigor; também não é aqui ou lá um ente
superior ou inferior, o que de alguma maneira o impediria de ater-se, mas é
antes totalmente pleno no ente; no estar contido (o ente) é todo; pios o ente
se acerca do ente.
Nisto sendo
imóvel, é ingênito e infindo nos limites das grandes cadeias; portanto a
gênesis e o perecer tem se extraviado longe, a confiança desvelante no entanto
os rejeitou. Como o mesmo e no mesmo permanecendo, repousa por si mesmo e desta
maneira permanece inabalável lá, pois a vigorosa necessidade o mantém nas
cadeias do limite, o qual o coloca em sua própria necessidade ambivalência; por
causa disto é determinação que o ente não pode ser ilimitado; pois é carente; o
ente, pois não anelaria o todo? O mesmo é pensar e graças ao que é o
pensamento; pois sem o ente, no qual o que é trazido a fala é, não encontrarás
o pensar: pois nada é ou será algo do que tudo será nome, o que mortais
fixaram, acreditando ser verdadeiro, o vir-a-ser e o perecer, ser e não ser,
alterar o lugar e mudar o que parece por causa das cores; mas porque é um
limite transcendente, é a presença plenificada em toda a parte, semelhante à
massividade de uma esfera bem plena, presença conquistada pelo mesmo vigor a
partir do meio na totalidade, pois é necessário que o ser não seja aqui ou lá
nem algo mais forte nem algo mais fraco. Pois também não é o ente, o que de
alguma maneira impediria de chegar ao mesmo, nem o ente, que pertenceria a uma
ente lá superior ou lá inferior, porque como todo, é íntegro, pois ai é
idêntico de toda parte e se acha integralmente nos limites.
Nisto
termino para ti a fala confiante como ponderação da ambivalência da verdade, a
partir disto aprende no entanto (sempre de novo) as opiniões dos mortais,
escutando o cosmo inventivo das minhas palavras.
Pois eles
colocaram formas de nomear dois sentidos – deles um não é necessário – no que
eles têm estado vagantes.
Eles
escolheram a antigonia e colocaram formações e indicações separadas uma das
outras, de um lado o fogo etérico em brasa, sendo suave grande vigoroso, de
toda a parte idêntico a si mesmo, como os outros não idêntico; então também de
outro lado, aquele por si mesmo, antigonia ambissal da noite, uma formação
densa e substancial. Eu trago à fala a ti todas as coisas como o universo na
incandescência do desvelamento: que jamais algum dia algum conhecimento dos mortais te transforme
alienando.
Heráclito
Fragmento 7
Se todas as
coisas se transformassem em fumaça, o nariz é que as distinguiria. (p. 61)
Isto é, se
todas as coisas fossem simples de evidenciar, qualquer um saberia fazê-lo.
Fragmento 62
Imortais
mortais, mortais imortais, vivendo a morte dos outros, morrendo a vida dos
outros.
Isto é, no
meu ver, ele fala dos filósofos que acham estar acima de um simples mortal, ao
menos no ato de pensar. Que discutem os problemas que são de todos.
Leandro Moreira da Luz é economista e aluno do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão - PARANÁ – período 1/2013.

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