Cidade e campo. Litoral e interior. Os fluxos das migrações. Tendências e qualidade de vida. A configuração atual. As principais causas das mudanças para a compreensão da problemática.
OS NÚMEROS do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Brasil só passou a ter uma população predominantemente urbana a partir da 2ª metade do século passado. Por exemplo: ainda nos anos 30 do século XX apenas 1/3 da população vivia nas cidades. Isto quer dizer que na outra ponta quase 70% da população vivia no campo ou na zona rural.
O ESTIGMA de ser um país rural foi, durante décadas, um obstáculo ou até mesmo uma das razões do subdesenvolvimento nacional. Os países ricos eram industrializados, com uma forte presença de trabalhadores no setor terciário da economia e, portanto, predominantemente urbanos. Ser taxado de ser um país rural, com a economia baseada na agricultura e na pecuária era o mesmo que ser chamado de pobre. Quer dizer: no caso brasileiro da época, uma economia agrícola pobre, de subsistência, concentrada nas monoculturas cafeeira e açucareira, sobretudo.
A TENDÊNCIA da concentração populacional nas cidades foi no sentido de realizar desejos de melhor qualidade de vida, de mais oportunidades. O meio rural era pobre, injusto e insuficiente em perspectivas de melhorar a qualidade de vida, incluindo aí saúde, educação e até falta de energia elétrica. Nesse sentido, mais do que a certeza de encontrar trabalho nas cidades, houve grandes migrações com a esperança de uma vida melhor e de um futuro mais ameno para os filhos.
AS MIGRAÇÕES do campo para a cidade, causando o que os demógrafos chamam de inchaço, foram também inter-regionais. Do nordeste brasileiro para o sul/sudeste do país. Neste caso, bastante conhecido no Brasil, a causa foi a extrema miséria da população rural, vitimada pelas secas comuns na região. Estes migrantes, em sua maioria, quase destituídos de dignidade e de cidadania, chegavam aos montes, fazendo surgir da noite para o dia as favelas, os aglomerados de casebres, superpovoados e, na maioria dos casos, de gente subempregada.
A CONFIGURAÇÃO atual da equação cidade/campo, vida urbana/rural, litoral/interior, mostra que mais de 80% da população é citadina. Pelos números do IBGE, atualizados minuto a minuto, dos mais de 190 milhões de habitantes do Brasil hoje pelo menos 150 milhões vivem nas cidades. São mais de 5 mil municípios, com população majoritariamente jovem, mas ainda mal distribuída por faixa etária.
OS EFEITOS da concentração populacional nas cidades se fazem sentir no aumento da violência, na insuficiência de serviços públicos, no desemprego e, consequentemente, na miséria das periferias urbanas transformadas em dormitórios e, para vergonha de todos, na infância perdida de milhares de crianças abandonadas e sem perspectivas de futuro ou de qualidade de vida. Vivemos um tal inchaço populacional, com tantos problemas, que já há um tímido refluxo para o interior, para a pacata vida no campo.
EM RESUMO, diríamos que nas últimas décadas o Brasil se afirmou como um país urbano, com tudo o que isto representa de bom e de problemas. Nosso campo também já não é mais o mesmo e tempos uma das mais desenvolvidas agriculturas e pecuárias do mundo. Isto significa que a volta para o campo será sempre relativamente menor, por causa do menor número de ocupação.
ESTE TEMA sobre vidas nas cidades e no campo reflete um processo histórico do capitalismo num país como o Brasil, que passou abruptamente, diríamos, do rural para o urbano. Que tem que enfrentar justamente a realidade de ter uma condição predominantemente urbana, com todos os problemas que isto acarreta num país desigual.
Sem comentários:
Enviar um comentário