domingo, 6 de janeiro de 2013

RESENHA DO ARTIGO: A LOCALIZAÇÃO DO EMPREGO E A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DO OESTE DO PARANÁ.

ALVES, L. R.; FERRERA DE LIMA, J.; RIPPEL, R.; PIACENTI, C. A. O continuum, a localização do emprego e a configuração espacial do Oeste do Paraná. Heera – Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada, v.1, n.2, ago/dez. 2006.


                        O objetivo do trabalho foi analisar a localização do emprego e a organização espacial da região Oeste do Paraná. A partir deste, observou-se que há vários tipos de regiões no espaço do Oeste Paranaense e que a coexistência desses vários tipos de regiões é o principal reflexo espacial do paradigma tecnológico/industrial no processo da introdução do sistema capitalista de produção. Nesse contexto, Foz do Iguaçu, Cascavel e Toledo foram os principais beneficiados, atraindo população e diversificando sua base produtiva a partir de 1970. Ainda há os municípios lindeiros à Hidrelétrica de Itaipu que estão em transição no desenvolvimento do setor do turismo, e os municípios que integram o corredor viário das BRs 277 e 467 que estão emergindo no contexto regional. Os demais municípios tornaram-se periferia nesse processo, sentindo o impacto com a imposição do novo processo de produção deixando o local totalmente subordinado ao global, que se concentram nos municípios pólos.

                        O século XX passou por muitas transformações na divisão social do trabalho. Essas mudanças, desde o modelo fordista ao de acumulação flexível, devem-se, grosso modo, à interação das mudanças no processo de acumulação capitalista, da reprodução da força de trabalho e dos processos políticos e ideológicos. A imposição de sistemas técnicos de ordem hegemônica reconfiguraram os espaços e tornaram uns mais dinâmicos que outros nesse processo de transformação a partir da concentração e centralização dos capitais.

Neste contexto, no que tange à área rural, há o impacto relativo à modernização, tecnificação e industrialização da agricultura que afetaram a estrutura fundiária, as relações de produção, a pauta dos produtos, os sistemas agrícolas, o habitat e a paisagem, além das densidades demográficas rurais.

                        Observa-se na Oeste do Paraná, uma colonização no início do século XX marcada pela exploração extrativista no binômio mate/madeira fornecendo as condições necessárias para ocupação, exploração e unificação da região. Num segundo momento, após 1940, a agricultura familiar ocupa esta função, com base em dois fluxos: o primeiro oriundo dos demais estados do Sul do Brasil e o segundo, de colonizadores do norte paranaense, impulsionados pelo café, e originários de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e do Nordeste Brasileiro. Colonização que apenas se firmou a partir de 1946 com a chegada de uma empresa gaúcha: Maripá, com base na exploração de madeira e um projeto de colonização baseado em pequenas propriedades que serviram de subsistência para imigrantes italianos e alemães. Esta imigração e a modernização da agricultura ocorrida a partir de 1960 encerram o ciclo de ocupação e entra-se numa nova fase econômica.

                        Em 1970, quando a região caracterizava-se como essencialmente agrícola, ocorre a reorganização da base produtiva, ocasionada pela modernização da base técnica vigente, da expansão agropecuária regional e do esgotamento da fronteira agrícola ocasionando o uso intensivo das novas áreas e a reestruturação das demais. Isso levou a um forte êxodo para os centros urbanos e, principalmente, para outros estados brasileiros.  Outros fatores relacionados ao êxodo foram a “geada negra de 1975” que extinguiu praticamente o café como principal cultura agrícola do Paraná; a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional, que obrigou pelo menos oito mil agricultores a deixar suas propriedades e, algumas culturas tradicionais no Estado, como o trigo e o algodão, que sofriam com o clima e a conjuntura econômica desfavorável.

A partir de 1980, há o surgimento e crescimento de agroindústrias cooperativas e a indústria local passa a se consolidar e ter sua dinâmica orientada pelo comportamento do agronegócio cooperativo. A população urbana ultrapassa a população rural no estado do Paraná devido, da mesma forma, à industrialização e a mecanização agrícola. Esta reestruturação da população na região Oeste do Paraná refletiu-se na reestruturação da mão-de-obra: enquanto o setor primário declina entre 1970-2000 os setores industrial e terciário aumentam. Isto vai impulsionar o crescimento e o desenvolvimento das atividades urbanas e a região Oeste integra-se ao “global”, consolidando as redes entre o local e o resto do mundo, deixando o “local” estritamente submisso as condições globais. É claro que, ainda a maioria dos municípios ainda possui uma economia com o setor primário significativo, sinalizando dependência e concentração de mão-de-obra nesse setor e uma posição de periferia regional.

Em 1970, Toledo, Cascavel e Foz do Iguaçu tinham a localização mais forte do setor industrial, fato que continuou em 1980. No entanto, Guaíra e Medianeira aparecem como municípios emergentes. A partir de 1991, o setor industrial começou a dispersar na região, como é o caso de Terra Roxa, que têm uma particularidade em especial na região, pois sua base produtiva é voltada para setor têxtil, enquanto os outros se especializaram na transformação agroalimentar. Isto sinaliza que o setor industrial não é tão homogêneo regionalmente.           

Com relação aos principais gêneros da região destaca-se o setor de abate de suínos e bovinos com 21 frigoríficos. Sendo que a região Oeste é a maior produtora de soja no Estado e sedia cinco esmagadoras da oleaginosa. Cabe observar também a presença das unidades de recebimento, armazenamento e comercialização de grãos: a Bunge e a Cargil, cujas instalações estão localizadas junto ao terminal das Ferrovias Paraná (Ferropar), em Cascavel. Informações que confirmam os dados do QL e demonstram que a economia regional evoluiu nos últimos anos para a concentração industrial no corredor viário das BRs 267 e 467.

No setor terciário, em 1970, verifica-se que somente os municípios de Foz do Iguaçu e Cascavel possuem QL significativo. No entanto, em 1980 esta situação muda, e a totalidade dos municípios apresentaram evolução do quociente, continuando entre 1991-2000, quando Cascavel, Foz do Iguaçu, Guaíra, Medianeira e Santa Terezinha do Iguaçu foram os únicos que apresentaram QL significativos. Foz do Iguaçu manteve esse desenvolvimento devido ao turismo ecológico, comércio, produção de energia e fluxo de transporte; e Santa Terezinha se beneficiou da proximidade em relação à Foz do Iguaçu. Já em Medianeira o QL é influenciado pelo setor de transportes e sua localização ao longo do corredor viário da BR-277, valendo salientar que os demais municípios que fazem parte da BR-277 também estão evoluindo neste setor.

Cascavel, pólo regional, é privilegiado pela localização no entroncamento das principais rodovias da região, além da rede ferroviária que passa pelo município, fazendo que passe pelo município grande parte da produção agroindustrial dos municípios circunvizinhos. Além de que possui a polarização mais forte da região e fica em primeiro lugar no quesito hierarquia regional, fazendo com que Cascavel apresentasse um forte QL do setor terciário em todo o período analisado.

Ainda em relação ao setor terciário, vale destacar que a região apresenta um enorme potencial turístico pela riqueza ambiental e natural e apesar da especialização produtiva regional assentar-se na agroindústria, o que toma centro de referência na atividade.

Analisando o perfil do Continuum Setorial Regional no Oeste do Paraná, a partir da afirmação de Ferrera de Lima (2004) que o continuum regional é um padrão locacional de desenvolvimento ininterrupto no espaço, observamos que os municípios mais diversificados da região (Toledo e Cascavel) mantiveram uma posição favorável na localização dos setores secundário e terciário e reforçaram sua posição no continuum urbano/industrial. Foz e Medianeira mantiveram, também, sua posição apesar das oscilações. No caso de Medianeira é o setor primário que fornece insumos ao seu parque industrial. No caso de Foz do Iguaçu, o setor terciário é altamente representativo para sua economia e, também é válido destacar que a emancipação de Santa Terezinha de Itaipu açambarcou uma parcela de seu distrito industrial.

Há em transição os municípios de Marechal Cândido Rondon, Terra Roxa, Guaíra, Capitão Leônidas Marques e Matelândia. Que no final de 1990 marcou-se o fortalecimento de uma estrutura agroindustrial até então inexistente.

                        No caso dos demais municípios existentes em 1970, a localização forte do setor primário e a incapacidade de localizar de forma forte o setor secundário, aprofundou seu continuum urbano/rural. Denotando-as como fornecedoras em potencial de insumos para o parque industrial das cidades com um continuum urbano/industrial.

                        Estas informações demonstram o “poder” de transformação do capitalismo industrial/tecnológico exercido nas regiões, modificando as bases econômicas de alguns municípios e concentrando e/ou fortalecendo a base de outros.             

                        Desse modo, para concluir, é fato que o processo de introdução da forma capitalista de desenvolvimento não foi positivo em todo o conjunto da região Oeste do Paraná, deixando alguns municípios na posição de periferia regional e intensificando outros na posição central e polarizante. Da mesma forma, o processo de reestruturação econômica regional reforçou a posição de destaque dos municípios pólos. A modificação nas últimas três décadas não definem a região apenas como agrícola ou natural, dividindo a região em outras regiões: pólos (Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo e Medianeira), turismo (municípios lindeiros), e agrícolas (a periferia regional que fornece insumos para os municípios pólos), necessitando de estudos específicos sobre a dinâmica no interior desses espaços.

                       

Leandro Moreira Bancke é pós-graduado em ciências econômicas e atualmente aluno do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão – período 1/2013.




           

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