quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

RESENHA DO ARTIGO: A ORIENTAÇÃO EXTERNA DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO BRASILEIRA APÓS A LIBERALIZAÇÃO COMERCIAL

FONSECA, et al (1998) “A orientação externa da indústria de transformação brasileira após a liberalização comercial”, Texto para Discussão n° 135, Funcex, abril.


                        O Objetivo do presente artigo é construir e analisar indicadores de orientação externa da economia brasileira que permitissem um melhor entendimento das mudanças na orientação externa brasileira pós-liberalização e dos efeitos dos choques externos, levando-se em consideração o custo da produção dos insumos importados.

                        Desde o início da década de 1990 observa-se uma mudança do regime de comercio de “fechado para aberto” em decorrência da política comercial, tendo como objetivo promover a modernização da indústria brasileira via competição com os produtores estrangeiros. Este processo impulsionou uma série de profundas mudanças em prol da modernização, no entanto, passado quase uma década, a economia brasileira continua relativamente fechada ao comércio internacional.

                        Em 1989 as exportações brasileiras correspondiam a 8,3% do PIB, nove anos depois, esta participação caiu para 6,6%, passando por 9,2 em 1992. Mesmo ajustando-se para o efeito da sobrevalorização do dólar pode-se afirmar que o coeficiente de exportação (CEX) manteve-se praticamente inalterado entre 1989-98.

                        Observando os indicadores de orientação externa para a indústria brasileira como um todo observa-se que durante o processo de abertura houve um aumento significativos dos coeficientes de exportação e importação (CPI) resultante do elevado grau de fechamento da economia brasileira pré-liberalização.

                        Embora as importações de bens de consumo duráveis tenham sido as que mais cresceram no período, o aumento das compras de matérias-primas e produtos intermediários também foi significativo.  O coeficiente de participação dos insumos importados (CII) passou de 3,3 para 5,8 entre 1989-98, um aumento de mais de 70%. Por sua vez, o CPI passou de 4,4 para 13,0, um aumento de 190%, no mesmo período.

                        Nos últimos anos, o desempenho exportador da indústria brasileira não tem acompanhado a evolução do comércio internacional, esta vem caindo desde 1984, sendo que entre 1989-98 se reduziu de 1,16% para 0,85. Em 1998 o CEX da indústria de transformação era de 11,3 apenas 18,5% superior ao coeficiente de 1989. Desse modo, pode-se concluir que o mercado externo ainda é encarado marginalmente pelo setor industrial brasileiro e a abertura comercial não reorientou até o momento, a economia em direção às atividades exportadoras.

                        O coeficiente de Abertura Líquida (CAL) caiu de 6,3 em 1989 para 4,8 em 1996, voltando a crescer para 5,5 em 1998, ou seja, acumulando uma queda de 11,3% no período analisado. Em termos de política econômica este comportamento significou uma diminuição do efeito positivo que uma desvalorização cambial teria sobre o ganho dos produtores brasileiros. E, não podemos deixar de considerar que as firmas brasileiras estão ainda sujeitas à concorrência dos produtos estrangeiros, o que faz com que, uma desvalorização cambial, tenhamos um efeito, favorável às firmas domésticas, via redução da concorrência.

                        No contexto setorial nota-se que o impacto da abertura foi diferenciado. Há indícios de uma mudança na estrutura da orientação externa da economia brasileira, ainda que não significativa, mais sensível pelo lado das importações. Observando a evolução dos coeficientes de correlação no decorrer dos anos, nota-se que a liberalização comercial teve pouco impacto em seus anos iniciais, mas gerou significativas mudanças, sobretudo na estrutura de importações em 1992-93, a partir dai o processo de reestruturação parece ter arrefecido, voltando só em 1997 a dar sinais de que a industria brasileira de transformação ainda não encontrou sua nova estrutura de orientação externa.

                        Analisando o desempenho de 28 atividades industriais observa-se que, destas, cinco atividades apresentam queda no CEX entre os triênios 1989-91 e 1996-98. Destas chama-se a atenção para a Siderurgia (- 35%), o Refino do Petróleo (-31%) e Outros Produtos alimentares (-20%). Sendo as atividades com maior crescimento no CEX o: Açúcar, Madeira e Mobiliário, Material Elétrico, Máquinas e Tratores, e Calçados. Das 28 atividades, 15 apresentam um CEX superior à média da indústria no triênio 1996-98. E no outro extremo, temos Laticínios, Artigos de Vestuário, Farmacêutica e Perfumaria e Minerais não-metálicos, com coeficientes inferiores a 3,0, isto é, voltados para o mercado doméstico.

                        No caso dos coeficientes de abertura líquida (CAL) são mais marcantes as atividades com coeficientes baixos. Agrupando as indústrias de acordo com seu grau de vulnerabilidade a choques externos, no primeiro grupo, colocam-se os setores exportadores tradicionais com CAL superiores a 15,0. Estes certamente seriam beneficiados com um choque externo do tipo de uma desvalorização cambial. Em seguida, nos setores com CAL entre 2,0 e 15,0, estão às indústrias que poderão vir a se beneficiar de uma desvalorização da moeda doméstica. No grupo das indústrias com CAL’s próximos a zero, estas teriam um pequeno impacto líquido decorrente de choques externos. Por último, aquelas com CAL negativo (devido ao volume de insumos importados empregados na produção), teriam um impacto reverso, isto é, perderiam com uma desvalorização cambial.

                        Concluindo, observa-se que, enquanto uma desvalorização cambial afeta positivamente as firmas pelo lado da receita, pelo lado do custo esta desvalorização teria um efeito negativo. Qualquer avaliação do impacto de choques externos deve, portanto, considerar ambos os efeitos. Vê-se, também, que a orientação externa brasileira vem se modificando nos últimos anos primordialmente pelo lado das compras. Na análise setorial confirma-se que as atividades com maior grau de abertura comercial são aquelas tradicionalmente exportadoras, por outro lado, atividades como Refino do Petróleo, Têxtil, Artigos de Plástico, Químicos Diversos, Equipamentos Eletrônicos e Artigos de Vestuário, que possuem CAL negativo tendem a sofrer os efeitos provenientes de um choque externo de maneira reversa. Por fim, as atividades relativamente mais afetadas com a abertura comercial, com relação à competição foram Automóveis, Caminhões e Ônibus, Artigos de Vestuário, Têxtil e Produtos Plásticos; por outro lado, praticamente todas as atividades se beneficiaram com a importação de insumos.    


 Leandro Moreira da Luz é aluno da disciplina Economia Brasileira no Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá – período 2/2011.

           



           




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