quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

RESENHA DO ARTIGO: O PLANO REAL E O REPOSICIONAMENTO DAS EMPRESAS.

CASTRO, Antonio Barros de. O plano real e o reposicionamento das empresas. In: VELLOSO. São Paulo. J. Olympio, 1995, 356 p.



                        O Objetivo do presente artigo é discutir, sumariamente, a questão do aumento da produtividade, base da aposta governamental, seguida de uma breve digressão acerca das estratégias empresariais, que parecem tomar corpo na atualidade, através  de uma opinião formada pela observação direta e assistemática das reações das empresas frente às radicais mudanças ocorridas no meio ambiente em que atuam.

                        No início do Plano Real as autoridades negavam-se a tomar conta de questões situadas em nível de setores em empresas singulares, para eles estas não deveriam sofrer interferências procedentes dos poderes públicos. A mera referência nesta questão soava como ameaça de retorno a um passado marcado pelo arbítrio e a concessão de favores. No novo contexto, o amplo acesso a insumos, equipamentos e tecnologias atualizadas, seria a avenida entreaberta para o aumento da produtividade.

                        Os fatos, como é bem sabido, trataram cruelmente os portadores dessas convicções, a suposta via de duas mãos logo se revelou congestionada do lado das importações e flagrantemente subutilizada do outro lado. A derrocada teve como símbolo um regime especial, altamente protecionista, para o setor automotivo. Vê-se, a partir desse ponto, que o governo passava a interessar-se vivamente pelo desempenho singular de setores e empresas.

                        Acompanhado da correção de rumo que acaba de ser caracterizada há outra percepção do que seja a tomada de decisões por parte das empresas. Há, em suma, escolhas a serem feitas, no enfrentamento/exploração do novo contexto, bem como na definição de novas estratégias não apenas na situação de setores e empresas, mas na própria conduta empresarial.

                        Na década de 1970 há algo que poderia ser chamado de “situação ideal” onde o trinômio emprego/crescimento/produtividade tem uma conjugação benigna. Na década de 1980, inicialmente a produtividade cresce, mas este resultado se combina com forte declínio no emprego. Segue-se, na metade da década, virtual estagnação da produtividade. Finalmente, na década de 1990, o indicador de produtividade dispara. Na fase Collor se combina com redução do emprego, posteriormente acontece algo inédito: o crescimento da produção se combina com redução do emprego, associada a um acelerado crescimento da produtividade. O ano de 1996 trouxe a exacerbação desta tendência: enquanto o emprego industrial retraiu-se 11,2% a produção cresceu 1,5% (o que indica um aumento de produtividade de incríveis 13%).

                        Na raiz desta distorção estaria situado o imenso movimento de desverticalização em curso na indústria brasileira, “dados confirmam que aqueles setores que mais avançaram no processo de terceirização em geral tendem a coincidir com aqueles que registraram maiores incrementos de produtividade”. Como é sabido, verificam-se, em tais casos, bruscos aumentos no coeficiente importado. Trata-se, em suma, de saltos verificados na terceirização para fora do país (acompanhados de reduções correspondentes no valor agregado por unidade aqui produzida).

                        É um equívoco também a idéia de que o aumento da produtividade tem sido tomado como um aumento da competitividade. A produtividade que aqui se faz genericamente referência é a do trabalho e para que um aumento nessa produtividade se traduza em redução dos custos unitários de produção é preciso que os salários (em dólares) cresçam menos que a produtividade, o que não é observado. O grande aumento da produtividade, ocorrida na década de 1990, da ordem de 50% foi acompanhado de elevação, da mesma ordem em grandeza, dos salários em dólares.

                        Essa elevação dos salários (em dólares) constituiu um importante ingrediente da redistribuição de renda ocorrida no advento do Real. Porém na medida em que os aumentos de produtividade continuem a ocorrer, sem que os salários acompanhem, passa a caracterizar um fenômeno de reconcentração de renda (o que ocorreria de forma ainda mais evidente caso o governo recorresse a uma desvalorização do cambial).

                        Na segunda metade dos anos 1980 ocorreu um estancamento da produtividade que só voltou a crescer no Governo Collor. Isso, somado a retração da taxa de investimento) sugerem que neste longo período o progresso técnico (que avançava com grande velocidade no exterior) deixou de ser introduzido no Brasil, configurando um fenômeno de retardamento tecnológico, que entreabre, em princípio, a possibilidade de uma rápida recuperação nos anos subseqüentes.     Esse processo de catch up evidentemente se encontra em curso o que tem contribuído para a elevação da produtividade. A partir dai, esse ponto tende-se a esgotar-se, ou, pelo menos, perder força. Nesse comenos, a capacidade de criar e experimentar novas soluções adquire uma importância decisiva.

                        Tais aumentos de produtividade resultam de decisões feitas pelas empresas em resposta às mudanças com que se defrontam. O que acontecem de maneira conjunta e consistente entre si. Frente a essas dificuldades, distinguimos aqui as diferentes linhagens estratégicas, pela escolha mais afluente nelas contidas: a) a busca pelo rebaixamento dos custos _ caracterizado pela forte dispensa de trabalhadores (racionalização, redução do espectro de atividades, terceirização, abandona de linhas de produção, adoção de métodos organizacionais e gerenciais contemporâneos, etc.); b) mudança, ampliação e/ou relocalização de capacidade _ em relação a abertura comercial (este ingrediente tende a ser reforçado pelo ingresso de multinacionais até então ausentes no país); e c) redefinições patrimoniais/empresariais _ desde a busca de sócios, estabelecimento de parcerias, até a fusão ou transferência de controle.

                        No conjunto dessas linhagens estratégicas ainda cabe o aumento da capacidade inovativa das empresas (nem os esforços em P&D, nem a qualificação de mão-de-obra foram sumariamente caracterizadas, nelas prevalecem a mera compra de insumos mais baratos e a aquisição de equipamentos superiores). Estas soluções aqui retratadas tendem a ser alcançadas antes por ruptura ou descontinuidade, do que por evolução.

                        Passa, em suma, ao primeiro plano, genericamente, o aprendizado, sendo lícito pensar que dificilmente se poderia continuar a avançar, no referente a ganhos de produtividade, à velocidade alcançada por ocasião da recuperação do atraso. Neste sentido, poderíamos estar saindo de uma fase caracterizada por ganhos fáceis de produtividade, e ingressando num período em que a capacidade de aprender e inovar se torna particularmente importante.

          
Leandro Moreira da Luz é aluno da disciplina Economia Brasileira no Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá – período 2/2011.


Sem comentários:

Enviar um comentário