BAKHTIN, Mikhail. Questões
de Literatura e de Estética (A teoria do Romance). 4.Ed., São Paulo: Editora Unesp,
1998, p. 13-56.
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p. 13 § 2
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“... isentamos nosso trabalho do lastro supérfluo
de citações e referências... são completamente infrutíferas: elas são
desnecessárias ao leitor competente e inúteis ao que não o é.”
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p. 8 § 1
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“... na Rússia... o domínio da arte era o
principal refúgio de toda tagarelice científica irresponsável, mas que
pretendia ter um significado profundo...Agora a situação das coisas se
altera: o reconhecimento dos direitos exclusivos do pensamento científico no
campo das artes torna-se apanágio mesmo de vastos círculos...”
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p. 15 § 3
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“... Construir um sistema de juízos científicos
sobre cada arte, e no caso em questão, sobre a arte literária,
independentemente dos problemas da essência da arte em geral: essa é a
tendência dos trabalhos contemporâneos de poética.”
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p. 16 § 3
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“... o estético, de certo modo, encontra-se na
própria obra de arte... mas para compreender cientificamente a sua
singularidade... necessita-se da filosofia sistemática com os seus métodos...
O conceito de estético não pode ser extraído da obra de arte pela via
intuitiva ou empírica: ele será ingênuo, subjetivo e instável.”
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p. 16 § 5
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“...Não se pode superar a discordância
metodológica no campo do estudo da arte por meio da criação de um novo
método... mas sim, por meio da argumentação sistemático-filosófica do fato e
da singularidade da arte na unidade da cultura humana.”
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p. 17 § 4
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“... a crítica vê no material a base mais estável
para discussão científica: pois a orientação para o material estabelece uma
proximidade tentadora com o positivismo empírico...”
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p. 18 § 1
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“... eis que surge no domínio da teoria da arte
uma tendência no sentido de compreender a forma artística como forma de um
dado material, e não mais como uma combinação nos limites do material, dentro
de sua definibilidade e conformidade físico-matemáticas e linguísticas, isto
permitiria aos juízos da crítica da arte serem científicos-positivos, e, em
alguns casos, diretamente demonstráveis pela matemática.”
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p. 19 § 6 – A
estética material não é capaz de fundamentar a forma artística.
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“...permanece totalmente incompreensível é a
tensão emocional e volitiva da forma, a sua capacidade inerente de exprimir
uma relação axiológica qualquer, do autor e do espectador, com algo além do
material... um caráter por demais tenso, por demais ativo para que se possa
interpretá-lo como restrita ao material.”
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p. 20 § 2
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“...o material se organiza na arte pela forma, de
modo a transformar-se num estimulador das sensações agradáveis e dos estados
do organismo psicofísico...”
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p. 21 § 3
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“... as artes livres são livres só de uma
determinação puramente cognitiva e de uma diferenciação do seu conteúdo...
Mas também nelas a forma está em certa medida livre de uma relação original
direta com o material: o som da acústica, no caso.”
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p. 22 § 1
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“...essa atitude cognitiva para com a obra tem
caráter secundário, pois a atitude primeira deve ser puramente artística.
A análise estética não deve estar diretamente
orientada sobre a obra na sua realidade sensível, e ordenada somente pela
consciência, mas sobre o que representa a obra para a atividade estética do
artista e do expectador, orientada sobre ela.”
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p. 22 § 4
Análise estética.
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“Compreender o objeto estético na sua
singularidade e estrutura puramente artística... depois a análise estética
deve abordar a obra na sua realidade original, puramente cognitiva, e
compreender sua estrutura de forma totalmente independente do objeto
estético... Finalmente, a terceira tarefa da análise estética: compreender a
obra exterior, material, como um objeto estético a ser realizado, como
aparato técnico da realização estética... (método teleológico)”
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p. 23 § 3
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“...A não diferenciação dos três momentos
assinalados... acarreta muita ambiguidade e imprecisão ao trabalho da
estética material...ora se tem em vista o objeto estético, ora a obra
exterior, ora a composição... A atividade artística (e a contemplação) são
substituídos, com isso, por um julgamento cognitivo e por uma técnica
errônea, por não ser concebida metodicamente.”
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p. 24 § 2
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“A forma de auto-suficiência, de auto-satisfação,
inerente a tudo o que é esteticamente acabado, é uma forma puramente
arquitetônica, impossível de ser transferida para a obra, como material
organizado, pois esta apresenta-se como uma entidade teleológica
composicional”
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p. 24 § 7
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“O humor, a heroificação, o tipo, o caráter, são
formas puramente arquitetônicas...o poema, o conto, a novela, são formas de
gêneros puramente composicionais; o capítulo, a estrofe, o verso são
articulações puramente composicionais...”
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p. 25 § 2
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“As formas arquitetônicas são as formas dos
valores morais e físicos do homem estético, as formas da natureza enquanto
seu ambiente, as formas do acontecimento no seu aspecto da vida particular,
social, histórica.”
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p. 25 § 3
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“As formas composicionais que organizam o
material têm um caráter teleológico, utilitário, como quer inquieto, e estão
sujeitas a uma avaliação puramente técnica...”
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p. 25 § 4
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“A partir de uma estética material, é
absolutamente impossível uma diferenciação rigorosa dos princípios das formas
composicionais e arquitetônicas.”
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p. 26 § 3
A estética material não é
capaz de explicar a visão estética fora da arte.
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“...o que é estético se realiza plenamente só na
arte...”
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p. 26 § 5
A estética material não
pode fundamentar a história da arte
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“A História não conhece séries isoladas....”
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p. 29 § 2
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“Não se deve...imaginar o domínio da cultura como
uma entidade espacial qualquer, que possui limites, mas que possui também um
território interior... Toda ato cultural vive por essência sobre fronteiras:
nisso está sua seriedade e importância; abstraído da fronteira, ele perde
terreno, torna-se vazio, pretensioso, degenera e morre.
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p. 30 § 4
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“...A obra é viva e significante do ponto de
vista cognitivo, social, político, econômico e religioso num mundo também
vivo e significante.”
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p. 31 § 6
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“O conhecimento não aceita a avaliação ética nem
a formalização estética, mas afasta-se disso.”
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p. 32 § 4
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“...no mundo do conhecimento não há, em
princípio, atos e obras separadas...”
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p. 33 § 2
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“A particularidade principal do estético, que o
diferencia nitidamente do conhecimento e do ato, é o seu caráter receptivo e
positivamente acolhedor... a vida não se encontra só fora da arte, mas também
nela, no seu interior, em toda plenitude do seu peso axiológico: social,
político, cognitivo ou outro que seja.”
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p. 33 § 5
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“... a estética como que nada seleciona, divide,
abole, nada repele, de nada se desvia...”
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p. 34 § 3
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“... O conhecimento e o ato são primordiais, isto
é, eles criam seu objeto pela primeira vez...”
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p. 34 § 4
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“... Na história da filosofia, observamos
constantemente uma tendência em recorrer à substituição da unidade postulada
do conhecimento e do ato pela unidade concreta, intuitiva, como que já dada e
presenta da visão estética.”
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p. 36 § 1
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“...o artista... ocupa uma posição essencial fora
do conhecimento e seu fautor ético -, ele ocupa uma posição essencial fora do
acontecimento enquanto assistente desinteressado, mas que compreender o
sentido axiológico daquilo que se realiza...”
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p. 36 § 2
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“Esta exterioridade (mas não indiferentismo)
permite que a atividade artística uma, formule e conclua o acontecimento a
partir do lado de fora... (o acabamento a partir do interior do próprio
conhecimento e do próprio ato é impossível).”
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p. 37 § 4
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“Existem obras que realmente não têm nada a ver
com o mundo, mas somente com a palavra “mundo” num contexto literário, obras
que nascem, vivem e morrem nas folhas das revistas, sem ultrapassar as
páginas das edições periódicas contemporâneas e sem nos conduzir a nada que
se encontre além dos seus limites.”
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p. 38-39
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“Deve-se distinguir nitidamente o elemento
ético-cognitivo... O conteúdo não pode ser puramente cognitivo, completamente
privado do elemento ético... A obra de arte e a contemplação apoderam-se do
elemento ético do conteúdo imediatamente, através da empatia ou simpatia e da
co-apreciação, e não por meio da compreensão e da exegese teóricas...”
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p. 42 § 2
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“...análise do elemento ético do conteúdo... é
indispensável separar a personalidade ética de sua encarnação artística numa
alma e num corpo individuais e esteticamente significantes, é também
indispensável desviar-se de todos os elementos da realização...”
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p. 43 § 5
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“... a obra não predetermina e não pode
predeterminar os graus de profundidade do elemento ético...”
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p. 44 § 1
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“Só é possível compreender o significado da
palavra depois de se ter compreendido a sua natureza puramente verbal e
linguística, de modo totalmente independente dos problemas do conhecimento da
criação artística, do culto religioso, etc.
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p. 46 § 2
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“...Não há enunciados neutros, nem pode haver;
mas a linguística vê neles somente o fenômeno da língua...”
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p. 46 § 4
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“É isolando e libertando o momento puramente
linguístico da palavra e criando uma nova unidade linguística com suas
subdivisões concretas, que a linguística domina metodicamente o seu objeto,
uma língua indiferente aos valores extralinguísticos...”
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p. 48 § 5
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“...A poesia não é uma exceção à lei comum a
todas as artes: a criação artística definível pela relação com o material
constitui a sua superação.”
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p. 49 § 4
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“... a análise linguística encontraria palavras,
orações, a análise física encontraria o papel, a tinta.... o fisiólogo
encontraria processos correspondentes aos órgãos de percepção... o psicólogo
determinaria as emoções correspondentes... assinalados... apenas pelo
julgamento em segundo grau, interpretativo e científico do esteta.
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p. 50 § 3
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“O enorme trabalho do artista com a palavra tem
por objetivo final a sua superação... mas a superação do material assume um
caráter puramente imanente; o artista liberta-se da língua na sua
determinação linguística não ao negá-la, mas graças ao seu aperfeiçoamento
imanente...obriga-a a superar a si própria.”
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p. 52 § 1
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“...o artista não lida com objetos e sim com
palavras, no caso em questão com a palavra “cidade” nada mais...”
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p. 52 § 3
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“...o poeta se relaciona com a cidade, com a
reminiscência, com o arrependimento, com o passado e com o futuro, como
valores éticos-estéticos...”
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p. 55 § 2
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“O significado do material na obra de arte é
definido da seguinte forma: sem entrar no objeto estético, em sua
determinação material extra-estética, como um componente esteticamente
significante, ele é indispensável à sua construção como momento técnico.”
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p. 55 § 3
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“Não é preciso atribuir a palavra “técnica”,
aplica a obra de arte, num sentido pejorativo: aqui a técnica não pode e não
deve ser separada do objeto estético... na obra de arte, a técnica não é de
algum modo mecanicista...”
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Leandro Moreira da Luz é aluno da
disciplina Literatura e outras linguagens: relações dialógicas no Programa de
Pós-Graduação em Sociedade e Desenvolvimento da Universidade Estadual do
Paraná. Campus de Campo Mourão – período 1/2014.

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