quarta-feira, 1 de julho de 2015

Fichamento (BAKHTIN): Questões de Literatura e de Estética (A teoria do Romance)



BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e de Estética (A teoria do Romance). 4.Ed., São Paulo: Editora Unesp, 1998, p. 13-56.


p. 13 § 2
“... isentamos nosso trabalho do lastro supérfluo de citações e referências... são completamente infrutíferas: elas são desnecessárias ao leitor competente e inúteis ao que não o é.”

p. 8 § 1
“... na Rússia... o domínio da arte era o principal refúgio de toda tagarelice científica irresponsável, mas que pretendia ter um significado profundo...Agora a situação das coisas se altera: o reconhecimento dos direitos exclusivos do pensamento científico no campo das artes torna-se apanágio mesmo de vastos círculos...”

p. 15 § 3
“... Construir um sistema de juízos científicos sobre cada arte, e no caso em questão, sobre a arte literária, independentemente dos problemas da essência da arte em geral: essa é a tendência dos trabalhos contemporâneos de poética.”

p. 16 § 3
“... o estético, de certo modo, encontra-se na própria obra de arte... mas para compreender cientificamente a sua singularidade... necessita-se da filosofia sistemática com os seus métodos... O conceito de estético não pode ser extraído da obra de arte pela via intuitiva ou empírica: ele será ingênuo, subjetivo e instável.”

p. 16 § 5
“...Não se pode superar a discordância metodológica no campo do estudo da arte por meio da criação de um novo método... mas sim, por meio da argumentação sistemático-filosófica do fato e da singularidade da arte na unidade da cultura humana.”

p. 17 § 4
“... a crítica vê no material a base mais estável para discussão científica: pois a orientação para o material estabelece uma proximidade tentadora com o positivismo empírico...”

p. 18 § 1
“... eis que surge no domínio da teoria da arte uma tendência no sentido de compreender a forma artística como forma de um dado material, e não mais como uma combinação nos limites do material, dentro de sua definibilidade e conformidade físico-matemáticas e linguísticas, isto permitiria aos juízos da crítica da arte serem científicos-positivos, e, em alguns casos, diretamente demonstráveis pela matemática.”

p. 19 § 6 – A estética material não é capaz de fundamentar a forma artística.
“...permanece totalmente incompreensível é a tensão emocional e volitiva da forma, a sua capacidade inerente de exprimir uma relação axiológica qualquer, do autor e do espectador, com algo além do material... um caráter por demais tenso, por demais ativo para que se possa interpretá-lo como restrita ao material.”

p. 20 § 2
“...o material se organiza na arte pela forma, de modo a transformar-se num estimulador das sensações agradáveis e dos estados do organismo psicofísico...”

p. 21 § 3
“... as artes livres são livres só de uma determinação puramente cognitiva e de uma diferenciação do seu conteúdo... Mas também nelas a forma está em certa medida livre de uma relação original direta com o material: o som da acústica, no caso.”

p. 22 § 1
“...essa atitude cognitiva para com a obra tem caráter secundário, pois a atitude primeira deve ser puramente artística.
A análise estética não deve estar diretamente orientada sobre a obra na sua realidade sensível, e ordenada somente pela consciência, mas sobre o que representa a obra para a atividade estética do artista e do expectador, orientada sobre ela.”

p. 22 § 4
Análise estética.
“Compreender o objeto estético na sua singularidade e estrutura puramente artística... depois a análise estética deve abordar a obra na sua realidade original, puramente cognitiva, e compreender sua estrutura de forma totalmente independente do objeto estético... Finalmente, a terceira tarefa da análise estética: compreender a obra exterior, material, como um objeto estético a ser realizado, como aparato técnico da realização estética... (método teleológico)”

p. 23 § 3
“...A não diferenciação dos três momentos assinalados... acarreta muita ambiguidade e imprecisão ao trabalho da estética material...ora se tem em vista o objeto estético, ora a obra exterior, ora a composição... A atividade artística (e a contemplação) são substituídos, com isso, por um julgamento cognitivo e por uma técnica errônea, por não ser concebida metodicamente.”

p. 24 § 2
“A forma de auto-suficiência, de auto-satisfação, inerente a tudo o que é esteticamente acabado, é uma forma puramente arquitetônica, impossível de ser transferida para a obra, como material organizado, pois esta apresenta-se como uma entidade teleológica composicional”

p. 24 § 7
“O humor, a heroificação, o tipo, o caráter, são formas puramente arquitetônicas...o poema, o conto, a novela, são formas de gêneros puramente composicionais; o capítulo, a estrofe, o verso são articulações puramente composicionais...”

p. 25 § 2
“As formas arquitetônicas são as formas dos valores morais e físicos do homem estético, as formas da natureza enquanto seu ambiente, as formas do acontecimento no seu aspecto da vida particular, social, histórica.”

p. 25 § 3
“As formas composicionais que organizam o material têm um caráter teleológico, utilitário, como quer inquieto, e estão sujeitas a uma avaliação puramente técnica...”

p. 25 § 4
“A partir de uma estética material, é absolutamente impossível uma diferenciação rigorosa dos princípios das formas composicionais e arquitetônicas.”

p. 26 § 3
A estética material não é capaz de explicar a visão estética fora da arte.
“...o que é estético se realiza plenamente só na arte...”

p. 26 § 5
A estética material não pode fundamentar a história da arte
“A História não conhece séries isoladas....”

p. 29 § 2
“Não se deve...imaginar o domínio da cultura como uma entidade espacial qualquer, que possui limites, mas que possui também um território interior... Toda ato cultural vive por essência sobre fronteiras: nisso está sua seriedade e importância; abstraído da fronteira, ele perde terreno, torna-se vazio, pretensioso, degenera e morre.

p. 30 § 4
“...A obra é viva e significante do ponto de vista cognitivo, social, político, econômico e religioso num mundo também vivo e significante.”

p. 31 § 6
“O conhecimento não aceita a avaliação ética nem a formalização estética, mas afasta-se disso.”

p. 32 § 4
“...no mundo do conhecimento não há, em princípio, atos e obras separadas...”

p. 33 § 2
“A particularidade principal do estético, que o diferencia nitidamente do conhecimento e do ato, é o seu caráter receptivo e positivamente acolhedor... a vida não se encontra só fora da arte, mas também nela, no seu interior, em toda plenitude do seu peso axiológico: social, político, cognitivo ou outro que seja.”

p. 33 § 5
“... a estética como que nada seleciona, divide, abole, nada repele, de nada se desvia...”

p. 34 § 3
“... O conhecimento e o ato são primordiais, isto é, eles criam seu objeto pela primeira vez...”

p. 34 § 4
“... Na história da filosofia, observamos constantemente uma tendência em recorrer à substituição da unidade postulada do conhecimento e do ato pela unidade concreta, intuitiva, como que já dada e presenta da visão estética.”

p. 36 § 1
“...o artista... ocupa uma posição essencial fora do conhecimento e seu fautor ético -, ele ocupa uma posição essencial fora do acontecimento enquanto assistente desinteressado, mas que compreender o sentido axiológico daquilo que se realiza...”

p. 36 § 2
“Esta exterioridade (mas não indiferentismo) permite que a atividade artística uma, formule e conclua o acontecimento a partir do lado de fora... (o acabamento a partir do interior do próprio conhecimento e do próprio ato é impossível).”

p. 37 § 4
“Existem obras que realmente não têm nada a ver com o mundo, mas somente com a palavra “mundo” num contexto literário, obras que nascem, vivem e morrem nas folhas das revistas, sem ultrapassar as páginas das edições periódicas contemporâneas e sem nos conduzir a nada que se encontre além dos seus limites.”

p. 38-39
“Deve-se distinguir nitidamente o elemento ético-cognitivo... O conteúdo não pode ser puramente cognitivo, completamente privado do elemento ético... A obra de arte e a contemplação apoderam-se do elemento ético do conteúdo imediatamente, através da empatia ou simpatia e da co-apreciação, e não por meio da compreensão e da exegese teóricas...”

p. 42 § 2
“...análise do elemento ético do conteúdo... é indispensável separar a personalidade ética de sua encarnação artística numa alma e num corpo individuais e esteticamente significantes, é também indispensável desviar-se de todos os elementos da realização...”

p. 43 § 5
“... a obra não predetermina e não pode predeterminar os graus de profundidade do elemento ético...”

p. 44 § 1
“Só é possível compreender o significado da palavra depois de se ter compreendido a sua natureza puramente verbal e linguística, de modo totalmente independente dos problemas do conhecimento da criação artística, do culto religioso, etc.

p. 46 § 2
“...Não há enunciados neutros, nem pode haver; mas a linguística vê neles somente o fenômeno da língua...”

p. 46 § 4
“É isolando e libertando o momento puramente linguístico da palavra e criando uma nova unidade linguística com suas subdivisões concretas, que a linguística domina metodicamente o seu objeto, uma língua indiferente aos valores extralinguísticos...”

p. 48 § 5
“...A poesia não é uma exceção à lei comum a todas as artes: a criação artística definível pela relação com o material constitui a sua superação.”

p. 49 § 4
“... a análise linguística encontraria palavras, orações, a análise física encontraria o papel, a tinta.... o fisiólogo encontraria processos correspondentes aos órgãos de percepção... o psicólogo determinaria as emoções correspondentes... assinalados... apenas pelo julgamento em segundo grau, interpretativo e científico do esteta.

p. 50 § 3
“O enorme trabalho do artista com a palavra tem por objetivo final a sua superação... mas a superação do material assume um caráter puramente imanente; o artista liberta-se da língua na sua determinação linguística não ao negá-la, mas graças ao seu aperfeiçoamento imanente...obriga-a a superar a si própria.”

p. 52 § 1
“...o artista não lida com objetos e sim com palavras, no caso em questão com a palavra “cidade” nada mais...”

p. 52 § 3
“...o poeta se relaciona com a cidade, com a reminiscência, com o arrependimento, com o passado e com o futuro, como valores éticos-estéticos...”

p. 55 § 2
“O significado do material na obra de arte é definido da seguinte forma: sem entrar no objeto estético, em sua determinação material extra-estética, como um componente esteticamente significante, ele é indispensável à sua construção como momento técnico.”

p. 55 § 3
“Não é preciso atribuir a palavra “técnica”, aplica a obra de arte, num sentido pejorativo: aqui a técnica não pode e não deve ser separada do objeto estético... na obra de arte, a técnica não é de algum modo mecanicista...”



             

            Leandro Moreira da Luz é aluno da disciplina Literatura e outras linguagens: relações dialógicas no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Desenvolvimento da Universidade Estadual do Paraná. Campus de Campo Mourão – período 1/2014.

           

           

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