ÉTIENNE, Souriau. A correspondência das artes: elementos de
estética comparada. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 1983. p. 01-49.
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p. 3 § 1
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“O vento são todos os ventos... A arte são todas
as artes... o que tem em comum essas diferentes atividades criadoras, que
esculpem suas obras uma no mármore, outras na projeção de luzes contra uma
tela, outras ainda no ar posto em vibração, e assim por diante... Percebe-se
a dificuldade que existe em ser rigoroso num campo que pode parecer aéreo e sutil...”
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p. 4 § 1
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“... Como é fácil cair assim numa síntese
intuitiva ou filosoficamente absconsa!...”
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p. 4 § 3
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“... um músico é, não somente de fato, mas mesmo
por vocação, um homem comprometido a fundo com o universo das sonoridades...”
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p. 5 § 2
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“... admitimos haver alguma analogia entre a
tradução de uma ideia artística em pintura, música ou escultura, e a tradução
de uma ideia literária, poética por exemplo, em francês, inglês ou alemão.
Cada linguagem traz consigo recursos próprios e insuficiências, e trata o
assunto a seu modo próprio...”
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p. 5 § 2
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“... É claro que cada um desses tratamentos teve
exigências próprias, seja tecnicamente, seja pela maneira de julgar que se impunha
a artistas orientados de modo muito diferentes uns dos outros. É o que
queremos dizer ao chamar de estética comparada...”
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p. 5 § 3
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“Com que dificuldades depara tal
empreendimento?... primeiro adversário é o espírito de metáfora e de
aproximações verbais literárias imprecisas... muitas pessoas... não se
importam... em ver exposta uma estética séria, metodicamente exigente, e
acham mais agradável brincar vagamente com um jargão de pretenso conhecedor
do que sujeitar-se a formar conceitos precisos e designá-los numa linguagem
estrita e bem determinada...”
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p. 6 § 2
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“... Outro obstáculo... aceitar por antecipação
uma espécie de redução à priori à unidade, pela predominância atribuída a uma
arte sobre as demais...”
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p. 7 § 2
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“Em qualquer arte, o artista é obrigado a
estabelecer um modus vivendi
concreto entre o querer e o poder. O artista força a matéria a manifestar seu
sonho, mas isso apenas quando esse sonho já tiver desposado uma matéria.”
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p. 8-9 § 3
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“...Terceira objeção... É contra esse acréscimo
que protesto: barras que indicam cortes não tem relação alguma com as barras
de compasso em música, as quais nunca são cortes...”
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p. 14 § 1
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“... Nada mais evidente do que a existência de um
tipo de parentesco entre as artes. Pintores, escultores, músicos, poetas, são
levitas do mesmo templo...”“
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p. 14 § 2
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“... E quantos agradáveis efeitos do estilo,
quantas metáforas graciosas, ao se usar numa arte o vocabulário de outra!...”
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p. 14 § 5
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“... Dentre os poderes espirituais do homem, foi
a arte que construiu todo um universo povoado de criaturas, umas imateriais _
sinfonias, prelúdios, noturnos; sonetos, baladas, epopeias _ outras visíveis
ao sol ou à lua, como os templos, catedrais, aquedutos, obeliscos, esfinges,
estátuas...”
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p. 15 § 21
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“... Loucura divina, talvez se (como muitos
acreditam) o divino interfere, ainda que pouco, através da inspiração...”
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p. 16 § 1
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“... muitos pintores preocuparam-se seriamente
com a possibilidade de aplicar receitas musicais à harmonia das cores...”
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p. 16 § 3
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“... Poesia, arquitetura, dança, música,
escultura, pintura são todas atividades que, sem dúvida, profunda,
misteriosamente, se comunicam ou comungam. Contudo, quantas diferenças! ...”
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p. 19 § 1
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“Chamar-se-á, aqui, de estética comparada à
disciplina cuja base é o confronto das obras entre si e dos procedimentos das
diferentes artes, tais como a pintura, o desenho, a escultura, a arquitetura,
a poesia, a dança, a música, etc...”
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p. 20 § 3
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“Por analogia, poder-se-ia pensar, sob o nome
estética comparada, num confronto de gostos, estilos, funções entre os
diferentes povos, ou em diversas épocas históricas, ou em grupos sociais
distintos...”
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p. 23 § 4
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“Algumas artes imitam-se mutuamente com maior
facilidade que outras, como línguas aparentadas...”
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p. 24 § 2
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“... As diferentes artes são como línguas
diferentes, entre as quais a imitação exige a tradução, o pensar num material
expressivo totalmente diferente, a invenção de efeitos artísticos paralelos
de preferência aos literalmente semelhantes...”
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p. 27 § 5
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“Como se há de alcançar tal rigor? De início e
antes de mais nada evitando a metáfora, peste da estética comparada. Se
alguém diz, ao falar de um quadro... ‘é uma sinfonia em azul maior’, desfia
sem razão plausível palavras vazias...”
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p. 30 § 3
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“A arte, essa força instauradora, praticamente
deslocou, arrastou em suas correntes e vias, organizou e ordenou quantidades
enormes de matéria; matéria carregada de significações psíquicas e assim
conectada a imensas perspectivas espirituais...”
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p. 31 § 6
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“Com efeito, não esqueçamos isto, que é
essencial: quaisquer que sejam as similitudes que possamos encontrar, por
exemplo, entre uma melodia e um arabesco decorativo, entre uma combinação de
cores e um acorde musical... nem o músico, nem o desenhista ou o pintor,
entretanto, as desejaram ou procuraram. O músico pensou musicalmente, o pintor
plasticamente...”
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p. 33 § 1
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“... o estudo das diversas artes particulares
pode ganhar em profundidade ou precisão graças a esse confronto de cada uma
com todas as demais...”
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p. 35 § 2
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“Que é arte?... É o conjunto de ações orientadas
e motivadas, que tendem expressamente a conduzir um ser (será preciso
acrescentar factíci?...)do nada ou de um caos inicial até a existência
completa, singular, concreta que se atesta em presença indubitável...”
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p. 35 § 3
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“...A arte não é apenas o que faz a obra, é aquilo
que a conduz e orienta...”
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p. 38 § 2
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“... A maioria das ações humanas são orientadas,
não para a produção dos seres, mas para a dos acontecimentos...”
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p. 41 § 3
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“As artes, dizíamos nós, fabricam coisas... Cada
uma dessas obras é ainda todo um mundo, com suas dimensões espaciais,
temporais e também suas dimensões espirituais, com ocupantes reais ou
virtuais, inanimados ou animados, humanos ou sobre humanos, com o universo de
pensamentos que desperta e mantém fulgurantes para os espíritos. E é um universo
que veio simultaneamente ao ser, à presença.”
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p. 42 § 1
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“...A beleza não passa de um sinal global de
todas as harmonias, todos os desabrochamentos, todas as invenções, todos os
sortilégios, todos os sorrisos e todas as apoteoses, todas as boas execuções
e as realizações necessárias a esse resultado...”
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p. 44 § 2
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“...Comumente, é a natureza quem decide isso; é
ela que, de acordo com suas próprias normas, construirá, misteriosamente,
sabiamente, delicadamente, o ser novo. É ela a artista.”
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p. 45 § 2
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“Critério eficaz, permite denunciar uma ilusão e,
mostrar exatamente a que se refere. Sim, se dessa forma, a aparência
instauradora dos processos naturais é pura ilusão... A ilusão da arte vem do
fato de estarmos atentos a esse fazer e
desfazer, a esse desabrochar e murchar dos seres, que é apenas um
reflexo enganador da indiferente atividade da natureza...
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p. 49 § 2
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“A arte humana, aliás, apoia-se integralmente
nessa arte natural... a arte humana conserva o direito e tenta a aventura de
fazer com que a forma sirva e seus desígnios e de só invocar a matéria
subsidiariamente, na medida em que ela se presta a tais desígnios...”
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Leandro Moreira da Luz é aluno da
disciplina Literatura e outras linguagens: relações dialógicas no Programa de
Pós-Graduação em Sociedade e Desenvolvimento da Universidade Estadual do
Paraná. Campus de Campo Mourão – período 1/2014.

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