SARAIVA, José
A.B. Sol: uma figura em disputa. Estudos Semióticos, vol. 7, n. 1, 2011, p. 1-9.
|
p. 1 § 1
|
A figura
“sol” marca profundamente formas de vida e pode servir de baliza para estudos
que queira observar e descrever universos de sentido que dialogam entre si,
contratualmente ou polemicamente.
|
João Cabral de Melo Neto,
em seu “a palo seco” logra traçar contornos gerais desta poética mediante a
convocação da figura “sol” como destinador do fazer do poeta.
- A figura “sol” parece, com efeito, constituir
um emblema da estética da economia da escassez em textos de João Cabral.
|
|
p. 2 § 5
|
... a figura “faca” consta de muitos poemas de
João Cabral, em que a voz tende a assumir a forma de lâmina, num contínuo
metafórico que se estabelece entre “voz”, “canto”, “lâmina” e faca perfazendo
um campo de intradiscursividade em sua obra.
|
- acrescente isso ao fato
de a figura “faca” ser constantes em textos de João Cabral, em que, de modo
geral, constitui metáfora de um modo nordestino de ser e de viver.
|
|
p. 2 § 7
|
“A Palo Seco”. Trata-se de uma canção de caráter
metadiscursivo, isto é, trata-se de uma metacanção: canção que fala de canção
e de um jeito específico de cantar....
|
- bem ao estilo meta de João Cabral, que, em tetos não raras
vezes pluri-isotópicos, fala a favor de um modo de fazer poesia particular,
como vimos.
- Belchior não só dá o
nome à canção do poema cabralino, mas também recorre à figura “faca”.
|
|
p. 3 § 1
|
“Apenas um rapaz latino americano”... desanca o
sujeito tropicalista da condição de seu “antigo” destinador-manipulador e
polemiza com ele, fazendo referência a um show/disco intitulado Divino
Maravilhoso e estrelado pelos baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mari
Bethânia e Gal Cost em 1976.
|
- Esta remissão ao
discurso tropicalista na obra de Belchior é bastante pródiga. Em “Coração
Selvagem” ...Belchior parece afirmar o elemento nacional ao empregar
reiteradamente o termo equivalente em língua portuguesa, num período em que
havia uma profusão de músicas estrangeiras ocupando espaços midiáticos. A
canção Baby de Caetano é emblemática neste período por polemizar no discurso
da MPB que postulava como uma das principais bandeiras a defesa de uma canção
“brasileira”...
Em “Moto I” salta à vista
a menção a outro traço típico do movimento capitaneado por Caetano, a “roupa
colorida”, tida como constituinte da corporalidade do ethos tropicalista.
|
|
p. 3 § 8
|
...sua tomada de decisão se dá também pela
contraposição a um tema caro a eles: a incorporação do elemento
estrangeiro... É interessante notar que este sentimento de afirmação do
elemento nacional se coaduna com a posição que Belchior assume perante a
presença estrangeira aculturante...
|
Nestes termos é que
julgamos poder ser interpretada, por exemplo, a frase “desesperadamente eu
grito em português” pronunciada pelo enunciador em A Palo Seco
- este modo de ver que a
passagem de A Palo Seco que envolve “português” “tango argentino” e “blues”
parece fazer sentido.
|
|
p. 3 § 9
|
Na letra de “Velha Roupa Colorida”, de Alucinação
(1976), segundo disco de Belchior, percebe flagrantemente no título uma
referência aos tropicalistas e ao movimento hippie, mas agora, de modo diferente do que ocorre em “Moto I”, o
sintagma “roupa colorida” vem acompanhado de um modificador axiologizante de
caráter depreciativo.
|
- Estas canções (ao lado
de “Como nossos pais”) não só parecem constituir um balanço avaliativo de um
passado cultural e, especialmente, um diálogo com tom polêmico com a geração
de cancionistas que precedeu a chegada dos cearenses ao cenário musical
brasileiro
|
|
p. 4 § 2
|
A figura “sol” ...Aqui remetemos o leitor ao modo
como João Cabral e Graciliano Ramos convocam esta figura para seus textos, em
oposição como ela costuma aparecer em alguns textos de Jorge Amado e dos
tropicalistas. Percebe-se que os primeiros geralmente veem nela uma figura no
mínimo não-eufórica, enquanto os segundos encaram-na como eminentemente
eufórica.
|
Esta polarização
axiológica é evidente em “Fotografia 3x4”, canção na qual Belchior interpela
Caetano e assume uma polêmica franca contra ele, ao retomar um trecho de
“Alegria, alegria”.
- O sujeito descrito por
Belchior avalia o discurso tropicalista como antigo, ultrapassado e indigno
de confiança, por apresentar-se em descompasso com a realidade disfórica
vivida por ele, e se propõe como sujeito do discurso ‘novo”, atual e digno de
confiança.
|
|
p. 4 § 10
|
Não é à toa que, dentre todas as canções de
Caetano, o sujeito de “Fotografia 3x4” tenha selecionado justamente “Alegria,
alegria” para com ela polemizar. Como se sabe, esta canção surge no III Festival
de MPB, da tevê Record, em 1967, e é ao lado de “Domingo no Parque”, de
Gilberto Gil, reconhecidamente um marco do projeto tropicalista...
|
|
|
p. 6 § 2
|
Se admitirmos que o tropicalismo exerce a função
de “antiga” instância doadora dos valores para o sujeito migrante da canção
de Belchior, como pensamos...Se o sujeito desta canção, desiludido com o
"antigo” destinador-manipulador que o motivou a migrar, pretende
descrever o percurso disfórico do migrante... nada mais natural que ele se
volte contra aquela instância de manipulação que marcou o início de sua
aventura...
|
|
|
p. 6 § 4
|
... a figura “sol” sela um contrato com uma
instância neutra do ponto de vista ideológico e, ao mesmo tempo, sugestiva do
ponto de vista figurativo...
|
TATIF (2001, p. 189)
|
|
p. 6 § 6
|
Nestes Termos, “Fotografia 3x4” é uma canção que
dialoga, a partir de “Alegria, alegria” principalmente com o sujeito
tropicalista, polemizando com ele... é uma canção que “A partir dela, o
tropicalismo ficou conhecido como o movimento que promoveu a mistura tanto em
termos de enriquecimento como de profanação de valores.” TATIF (2001, p. 189)
|
|
Leandro Moreira da Luz economista e aluno do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão-PR – período 2/2015.

Sem comentários:
Enviar um comentário