segunda-feira, 13 de julho de 2015

Fichamento (SARAIVA): Sol: uma figura em disputa.



SARAIVA, José A.B. Sol: uma figura em disputa. Estudos Semióticos, vol. 7, n. 1, 2011, p. 1-9.


p. 1 § 1
 A figura “sol” marca profundamente formas de vida e pode servir de baliza para estudos que queira observar e descrever universos de sentido que dialogam entre si, contratualmente ou polemicamente.
João Cabral de Melo Neto, em seu “a palo seco” logra traçar contornos gerais desta poética mediante a convocação da figura “sol” como destinador do fazer do poeta.
-  A figura “sol” parece, com efeito, constituir um emblema da estética da economia da escassez em textos de João Cabral.
p. 2 § 5
... a figura “faca” consta de muitos poemas de João Cabral, em que a voz tende a assumir a forma de lâmina, num contínuo metafórico que se estabelece entre “voz”, “canto”, “lâmina” e faca perfazendo um campo de intradiscursividade em sua obra.
- acrescente isso ao fato de a figura “faca” ser constantes em textos de João Cabral, em que, de modo geral, constitui metáfora de um modo nordestino de ser e de viver.
p. 2 § 7
“A Palo Seco”. Trata-se de uma canção de caráter metadiscursivo, isto é, trata-se de uma metacanção: canção que fala de canção e de um jeito específico de cantar....
- bem ao estilo meta  de João Cabral, que, em tetos não raras vezes pluri-isotópicos, fala a favor de um modo de fazer poesia particular, como vimos.
- Belchior não só dá o nome à canção do poema cabralino, mas também recorre à figura “faca”.
p. 3 § 1
“Apenas um rapaz latino americano”... desanca o sujeito tropicalista da condição de seu “antigo” destinador-manipulador e polemiza com ele, fazendo referência a um show/disco intitulado Divino Maravilhoso e estrelado pelos baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mari Bethânia e Gal Cost em 1976.
- Esta remissão ao discurso tropicalista na obra de Belchior é bastante pródiga. Em “Coração Selvagem” ...Belchior parece afirmar o elemento nacional ao empregar reiteradamente o termo equivalente em língua portuguesa, num período em que havia uma profusão de músicas estrangeiras ocupando espaços midiáticos. A canção Baby de Caetano é emblemática neste período por polemizar no discurso da MPB que postulava como uma das principais bandeiras a defesa de uma canção “brasileira”...
Em “Moto I” salta à vista a menção a outro traço típico do movimento capitaneado por Caetano, a “roupa colorida”, tida como constituinte da corporalidade do ethos tropicalista.
p. 3 § 8
...sua tomada de decisão se dá também pela contraposição a um tema caro a eles: a incorporação do elemento estrangeiro... É interessante notar que este sentimento de afirmação do elemento nacional se coaduna com a posição que Belchior assume perante a presença estrangeira aculturante...
Nestes termos é que julgamos poder ser interpretada, por exemplo, a frase “desesperadamente eu grito em português” pronunciada pelo enunciador em A Palo Seco
- este modo de ver que a passagem de A Palo Seco que envolve “português” “tango argentino” e “blues” parece fazer sentido.
p. 3 § 9
Na letra de “Velha Roupa Colorida”, de Alucinação (1976), segundo disco de Belchior, percebe flagrantemente no título uma referência aos tropicalistas e ao movimento hippie, mas agora, de modo diferente do que ocorre em “Moto I”, o sintagma “roupa colorida” vem acompanhado de um modificador axiologizante de caráter depreciativo.
- Estas canções (ao lado de “Como nossos pais”) não só parecem constituir um balanço avaliativo de um passado cultural e, especialmente, um diálogo com tom polêmico com a geração de cancionistas que precedeu a chegada dos cearenses ao cenário musical brasileiro
p. 4 § 2
A figura “sol” ...Aqui remetemos o leitor ao modo como João Cabral e Graciliano Ramos convocam esta figura para seus textos, em oposição como ela costuma aparecer em alguns textos de Jorge Amado e dos tropicalistas. Percebe-se que os primeiros geralmente veem nela uma figura no mínimo não-eufórica, enquanto os segundos encaram-na como eminentemente eufórica.
Esta polarização axiológica é evidente em “Fotografia 3x4”, canção na qual Belchior interpela Caetano e assume uma polêmica franca contra ele, ao retomar um trecho de “Alegria, alegria”.
- O sujeito descrito por Belchior avalia o discurso tropicalista como antigo, ultrapassado e indigno de confiança, por apresentar-se em descompasso com a realidade disfórica vivida por ele, e se propõe como sujeito do discurso ‘novo”, atual e digno de confiança.
p. 4 § 10
Não é à toa que, dentre todas as canções de Caetano, o sujeito de “Fotografia 3x4” tenha selecionado justamente “Alegria, alegria” para com ela polemizar. Como se sabe, esta canção surge no III Festival de MPB, da tevê Record, em 1967, e é ao lado de “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil, reconhecidamente um marco do projeto tropicalista...

p. 6 § 2
Se admitirmos que o tropicalismo exerce a função de “antiga” instância doadora dos valores para o sujeito migrante da canção de Belchior, como pensamos...Se o sujeito desta canção, desiludido com o "antigo” destinador-manipulador que o motivou a migrar, pretende descrever o percurso disfórico do migrante... nada mais natural que ele se volte contra aquela instância de manipulação que marcou o início de sua aventura...

p. 6 § 4
... a figura “sol” sela um contrato com uma instância neutra do ponto de vista ideológico e, ao mesmo tempo, sugestiva do ponto de vista figurativo...
TATIF (2001, p. 189)

p. 6 § 6
Nestes Termos, “Fotografia 3x4” é uma canção que dialoga, a partir de “Alegria, alegria” principalmente com o sujeito tropicalista, polemizando com ele... é uma canção que “A partir dela, o tropicalismo ficou conhecido como o movimento que promoveu a mistura tanto em termos de enriquecimento como de profanação de valores.” TATIF (2001, p. 189)






            Leandro Moreira da Luz economista e aluno do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão-PR – período 2/2015.

           

           


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