quinta-feira, 9 de julho de 2015

Resenha (BAUMAN): Marcos Conceituais para o desenvolvimento da interdisciplinaridade.


BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007, 119p.

           
            Neste livro Bauman faz uma profunda reflexão sobre a insegurança, sobretudo nas grandes cidades. Segundo ele, o desmonte dos mecanismos de proteção dos menos favorecidos, somados aos efeitos incontroláveis gerados pela globalização, propiciou um ambiente inseguro por definição. Assim as cidades se tornam o local por excelência das ansiedades. “Construídas para fornecer proteção a todos os seus habitantes, as cidades hoje em dia se associam com mais frequência ao perigo que à segurança”. Não à toa, é no medo que se baseia a legitimidade da política contemporânea, incapaz de alcançar a origem global dos problemas – o que acaba por alimentar, ainda mais, as angústias da vida na modernidade líquida.
A passagem sólida da modernidade para a “líquida” é uma condição onde as organizações sociais não podem manter sua forma por muito tempo (se decompõe e se dissolvem mais rápido que o tempo que leva para moldá-las e, uma vez reorganizadas, para que se estabeleçam. A vida “líquida” moderna traz os seus medos, em suma por duas razões: i) num planeta atravessado por “auto-estradas” da informação, nada que acontece em alguma parte dele pode de fato, ao menos potencialmente, permanecer do “lado de fora” intelectual; ii) num planeta aberto à livre circulação de capital o que acontece num determinado lugar tem um peso sobre a forma como as pessoas de todos os outros lugares vivem, esperam ou supõe viver. Nada pode ser considerado num “lado de fora” material. O bem-estar de um lugar, qualquer que seja, nunca é inocente em relação à miséria de outro. Uma sociedade aberta é uma sociedade exposta a golpes do destino.
As ações do governo estadunidense juntamente com seus vários satélites mal disfarçados de “instituições internacionais” (Banco Mundial, FMI, OMC) geraram, como “produtos colaterais” perigosos, o “nacionalismo, o fanatismo religioso, o fascismo e, evidentemente, o terrorismo – que avança de mão dadas com o progresso da globalização liberal.” “Mercados sem fronteiras” é uma receita para a injustiça e para a nova desordem mundial.
Para serem mais seguras, elas acabam se dispondo a correr o risco de serem menos livres. A vida social se altera quando as pessoas vivem atrás de muros, contratam seguranças, dirigem veículos blindados, portam porretes e revólveres, etc. O problema é que essas atividades reafirmam e ajudam a produzir o senso de desordem que nossas ações buscam evitar. Os medos nos estimulam a assumir uma ação defensiva.
Observa-se, também, que grande parte do capital comercial pode ser – e é – acumulada a partir da insegurança e do medo. O espectro da degradação social contra o Estado social jurou garantir ao seu cidadão está sendo substituído na fórmula política do “Estado da proteção pessoal” pelas ameaças de um serial Killer, de um mendigo atrevido, de um assaltante, de um molestador, terrorista, etc. E a estratégia de lucrar com o medo está igualmente bem arraigada, na verdade uma tradição que remonta aos anos iniciais do ataque liberal ao Estado social.
A nova legislação favoreceu principalmente os terroristas, aumentando sua visibilidade pública e assim, obliquamente, sua estatura, muito além dos limites que eles poderiam concebivelmente atingir por si próprios. (a “guerra contra o terrorismo”, declarada depois do atentado ao World Trade Center, já produziu muito mais “vítimas colaterais” inocentes do que o próprio atentado). Deve-se repetir que a matéria-prima e o principal resultado da guerra travada contra os terroristas acusados de semear o medo têm sido, até agora, o próprio medo. O produto altamente visível da guerra são as restrições de amplo alcance impostas as liberdade pessoais. Num mundo em que cada indivíduo é abandonado à própria sorte, enquanto a maioria das pessoas funciona como ferramenta para a promoção de terceiros. (os vínculos humanos são confortavelmente frouxos, mas, por isso mesmo, terrivelmente precários, e é tão difícil praticar a solidariedade quanto compreender seus benefícios, e ainda mais suas virtudes morais.) Num planeta negativamente globalizado os metaproblemas que condicionam o enfrentamento de todos os outros são globais e, sendo assim não, admitem soluções locais.
A quantidade de seres humanos tornada excessiva pelo triunfo do capitalismo global cresce inexoravelmente e agora está perto de ultrapassar a capacidade administrativa do planeta. Ainda não chegamos perto de perceber e entender os efeitos de longo alcance das massas cada vez maiores de pessoas desperdiçadas no equilíbrio político e social da coexistência humana e planetária. Essa nova “plenitude do planeta” tem consequências diretas:

ü  Obstrução dos escoadouros – drenagem dos “excedentes humanos” (a parte que não pode ser reassimilada aos padrões da vida “normal” e reclassificada na categoria de membros “úteis” da sociedade) que o modo de vida moderno tendeu a produzir numa escala sempre crescente: a população supérflua, supranumerária e irrelevante.

As guerras e os massacres tribais, a proliferação de “exércitos de guerrilheiros” ou gangues de criminosos e traficantes de drogas posando de defensores da liberdade, ocupados em dizimar as fileiras uns dos outros, mas absorvendo e, no devido tempo, aniquilando nesse processo o “excedente populacional” (principalmente jovens, que não conseguem emprego e não tem perspectivas) – é uma das “quase soluções locais para problemas globais”. Centenas de milhares de pessoas são escorraçadas de seus lares, assassinadas ou forçadas a buscar a sobrevivência fora da fronteira do seu país, ou seja, a produção em massa dos refugiados. Estes nunca estarão livres de um persistente senso de transitoriedade e indefinição, assim como da natureza provisória de qualquer assentamento. (os portadores do estigma serão mantidos definitivamente à distância em razão de sua humanidade inferior, o que representa sua desumanização tanto física quanto moral.)
Quanto aos refugiados em seu próprio território, para eles nada resta senão os muros, o arame farpado, os portões controlados, os guardas armados. Entre si, eles definem a identidade do refugiado – ou melhor, eliminam o seu direito de auto definição, que dirá de autoafirmação. Todo refugo, incluindo o lixo humano, tende a ser depositado indiscriminavelmente no mesmo local. Esta definição do “lixo” põe fim as diferenças, individualidades e idiossincrasias.
O planeta agora está cheio. Isso significa, entre outras coisas, que processos tipicamente modernos como a construção da ordem e do progresso econômico ocorrem por toda parte – assim como o “lixo humano” é produzido por toda parte, jogado fora em volumes crescentes; agora, porém, faltam os depósitos “naturais” adequados para a sua armazenagem e potencial reciclagem.
No que tange à miséria como origem genuína ou supostamente social, tudo o que é feito por humanos pode ser refeito por seres humanos. Nesse caso, portanto, não aceitamos quaisquer limites à reconstrução da realidade. Todo caso de infelicidade socialmente determinada é, portanto, um caso de abuso e um chamado às armas. Se a “proteção realmente disponível” e os benefícios de que desfrutamos estão aquém do ideal, se os relacionamentos ainda não são do nosso gosto, se os regulamentos não são o que deveriam (e acreditamos, poderiam) ser, tendemos a suspeitar que haja pelo menos uma repreensível escassez de boa vontade, porém com mais frequência presumimos a existência de maquinações hostis, complôs, conspirações, intenções criminosas, um inimigo à nossa porta ou sob nossa cama, um culpado cujo nome e endereço ainda estão por se revelar, que está para ser levado diante da justiça. Premeditação criminosa, em suma.
Podemos afirmar que a variedade moderna da insegurança é caracterizada distintivamente pelo medo da maleficência e dos malfeitores humanos. Castel atribui à individualização moderna a responsabilidade por esse estado de coisas. Sugere que a sociedade moderna tendo substituído as comunidades e corporações estreitamente entrelaçadas, que no passado definiam as regras de proteção e monitoravam sua aplicação pelo dever individual do interesse, do esforço pessoal e da auto-ajuda, tem vivido sobre a areia movediça da contingência. Numa sociedade assim, os sentimentos de insegurança existencial e os temores disseminados de perigos generalizados são, inevitavelmente, endêmicos.
Desde o começo, o Estado moderno foi, portanto, confrontado com a tarefa assustadora de administrar o medo. A segurança pessoal só pode ser obtida com a introdução de normas impostas a todos os participantes do jogo. A universalidade das normas não transformaria todo mundo em vencedor. Não podemos estar seguros de nossos direitos pessoais se não formos capazes de exercer direitos políticos e fizermos essa capacidade pesar no processo de elaboração das leis.
No entanto, a democracia é uma aventura seletiva e estritamente limitada. O demos que deveria deter o kratos sobre a criação e alteração das leis é confinado nesse estágio a uns poucos privilegiados, ao mesmo tempo que exclui, não apenas na prática, mas também da letra da lei, uma ampla maioria do povo ao qual se pretendia que as leis formuladas politicamente fossem impostas.
Se os direitos políticos podem ser usados para enraizar e solidificar as liberdades pessoais assentadas no poder econômico, dificilmente garantirão liberdades pessoais aos despossuídos, que não tem direitos aos recursos sem os quais a liberdade pessoal não pode ser obtida nem, na prática, desfrutada. Sem direitos sociais, os direitos políticos continuarão sendo um sonho inatingível, um ficção inútil ou um piada cruel para grande parte daqueles a quem eles foram concedidos pela letra da lei. Enquanto permanecerem desprovidos de recursos, os pobres podem esperar no máximo serem recebedores de transferências, não sujeitos de direitos. Sem direitos sociais para todos, um grande número de pessoas irá considerar seus direitos políticos inúteis e indignos de atenção. Os dois tipos de direito precisam um do outro para sobreviver.
A desintegração da solidariedade significou o fim da maneira sólido-moderna de administrar o medo. Uma vez que a competição substitui a solidariedade, os indivíduos se vêem abandonados aos seus próprios recursos – lamentavelmente escassos e evidentemente inadequados. Neste interim, Robert Castel assinala o retorno das classes perigosas. As originais eram constituídas do excedente populacional temporariamente excluído e ainda não integrado que o progresso econômico acelerado havia privado de uma “função útil”, enquanto a pulverização acelerada das redes de vínculos os havia destituído de proteção. As novas perigosas são aquelas reconhecidas como inadequadas à reintegração e proclamadas inassimiláveis, já que não se pode conceber uma função útil que sejam capazes de exercer após a “reabilitação”. Estas últimas são excluídas permanentemente (um dos poucos casos de “permanência” que a modernidade líquida não apenas permite, mas promove ativamente). A irrevogabilidade de sua expulsão e fragilidade das chances de apelas do veredicto é que transformam os excluídos contemporâneos em “classes perigosas”: homens e mulheres que não se encaixam em nenhuma divisão social legítima, indivíduos deixados de fora das classes e que não são portadores de nenhuma das funções reconhecidas, aprovadas, úteis e indispensáveis que os membros “normais” da sociedade executam.
Não menos tênue é a linha que separa os “excedentes” dos criminosos: a “subclasse” e os “criminosos” são apenas duas subcategorias de excluídos, “socialmente desajustados” ou até “elementos anti-sociais”. Estes não são mais vistos como temporariamente expulsos da vida social normal e destinados a serem “reeducados”, “reabilitados” e “reenviados à comunidade” na primeira oportunidade – mas como permanentemente marginalizados, inadequados para a “reciclagem social” e designados a serem mantidos permanentemente fora, longe da comunidade dos cidadãos cumpridores da lei.
A sociedade para ficar fora do alcance desta “subclasse”, antigamente refugiavam-se às cidades: “um dos principais incentivos a construção de cidades cujas divisas eram muitas vezes definidas por amplas muralhas ou cercas [...]”. Muralhas, fossos e paliçadas assinalavam a divisa entre “nós” e “eles”, ordem e selvageria, paz e guerra. No entanto, de lugar relativamente seguro, a cidade tem sido associada, principalmente nos últimos cento e poucos anos, “mais a perigo que à proteção”.
“Quanto mais nos afastamos de nossa vizinhança imediata, mais contamos com a vigilância daquele ambiente... Os lares de muitas áreas urbanas de todo o mundo agora existem para proteger seus habitantes, não para integrar as pessoas com suas comunidades.” Observam Gumpert e Drucker. Os refugos da nova extraterritorialidade física dos espaços urbanos privilegiados, habitados e usados pela elite global são espaços desconectados e abandonados. As pessoas da “camada superior” não pertencem ao lugar que habitam, pois suas preocupações estão (ou melhor, flutuam e navegam à deriva) em outro lugar.
As atuais elites urbanas são despreocupadas em relação aos assuntos de “sua” cidade, que vem a ser apenas uma localidade entre outras, todas elas sendo pequenas e insignificantes do ponto de vista do ciberespaço – seu verdadeiro lar, ainda que virtual. Moram, fisicamente, em localidades fechadas que são criadas para serem mundos separados. Estes “espaços interditados” tem o propósito de dividir, segregar e excluir – não construir pontes, passagens acessíveis e locais de encontro, facilitar a comunicação e agregar de outras formas os moradores das cidades. Tem o propósito de isolar os enclaves extraterritoriais do espaço urbano contíguo.
Os cidadãos urbanos da camada inferior são “condenados a permanecerem locais” – e portanto se pode e deve esperar que suas atenções e preocupações, juntamente com seus descontentamentos, sonhos e esperanças, se concentres nos “assuntos locais”.
As cidades contemporâneas são, por esse motivo, os estágios ou campos de batalha em que os poderes globais e os significados e identidades teimosamente locais se encontram, se chocam, lutam e buscam um acordo satisfatório, ou apenas tolerável – um modo de convivência que, se espera, seja uma paz duradoura, mas que a regra mostra ser apenas um armistício.
Mas ainda que suas raízes e causam recônditas sejam indubitavelmente globais, os assuntos só entram no domínio das preocupações políticas por meio de seus subprodutos e repercussões locais. As cidades se tornaram depósitos sanitários de problemas concebidos e gerados globalmente. Assim surge o paradoxo de uma política cada vez mais local num mundo progressivamente modelado e remodelado por processos globais.
A características que permaneceu constante das cidades é que estas são espaços em que estranhos ficam e se movimentam em estreitas proximidade uns dos outros. E o medo ambiente, ainda que subliminar, do desconhecido busca desesperadamente escoadouros de confiança. Nesse contexto, inato ao processo de formar uma imagem coerente da comunidade é o desejo de evitar a participação real. Sentir vínculos comuns sem uma experiência  comum ocorre, em primeiro lugar, porque os homens têm medo da participação, medo de seus perigos e ameaças, medo da sua dor. A tendência a um ambiente homogêneo, territorialmente isolado, pode ser deflagrada pela mixofobia (fobia de se misturar com outras pessoas).
A concentração maciça de estranhos é, simultaneamente, um repelente e um poderoso imã, atraindo para a cidade novas cortes de homens e mulheres cansados da monotonia da vida no campo ou nas pequenas cidades. Assim quanto maior é a cidade, mais provável que ela atraia um número crescente de pessoas que rejeitam ou que têm negadas as chances e ocasiões de aventura em lugares menores e, portanto, menos tolerantes a idiossincrasia e mais sovinas quanto às liberdades que oferecem ou, na verdade, toleram.
Se a segregação é oferecida e aceita como cura radical para os perigos representados pelos estranhos, conviver com estes se torna cada dia mais difícil. Homogeneizar os bairros residenciais e então reduzir ao mínimo inevitável todo o comércio e comunicação entre eles é uma receita infalível para a intensificação e o aprofundamento do impulso de excluir e segregar. Uma medida como essa pode ajudar a reduzir temporariamente as dores das quais padecem as pessoas afligidas pela mixofobia, mas a cura é, em si mesma, patogênica e torna a aflição mais profunda e menos curável.
Mas favorável à fixação e ao cultivo de sentimentos mixofílicos seria a estratégia oposta em termos de arquitetura e planejamento urbano: a propagação de espaços públicos abertos, convidativos e hospitaleiros, os quais todas as categorias de habitantes urbanos seriam tentadas a visitar regularmente e a compartilhar com boa vontade e conscientemente. A “fusão” exigida pela compreensão mútua só pode resultar da experiência compartilhada. E compartilhar a experiência é inconcebível sem um espaço comum.
Uma utopia na era da incerteza, para Bauman, é fundamental: sonhamos com um mundo seguro no qual possamos confiar e acreditar. Um nome, graças a sir Thomas More, se tem comumente atribuído a sonhos desde o sec. XVI (ou seja, desde que as rotinas antigas e aparentemente eternas começaram a desintegrar, em que hábitos antigos e convenções começaram a mostrar sua idade e os rituais, sua debilidade; e sua violência) Quando Thomas More desenhou sua planta de um novo mundo livre de ameaças imprevisíveis, o improviso e a experimentação, cheios de riscos e erros, estavam se tornando rapidamente a ordem do dia.
Para nascer o sonho dos utopistas necessitavam de duas condições: i) um sentimento irresistível (mesmo que difuso e ainda não articulado); ii) confiança na capacidade humana de realizar essa tarefa;
Podemos dizer que a postura pré-moderna em relação ao mundo era a do “guarda-caça”. O trabalho deste se baseia na crença de que as coisas andam melhor quando não as consertamos. No entanto, se a postura fosse do “jardineiro” não seria assim: este presume não haver espécie de ordem no mundo, não fosse sua atenção e esforço constante. São estes últimos que tendem a ser os mais zelosos e hábeis construtores da utopia. No nosso tempo a postura do jardineiro está cedendo vez à do caçador. Diferente dos dois tipos que prevaleceram este não dá a menor importância ao “equilíbrio” geral “das coisas”, seja ele “natural” ou planejado e maquinado. A única tarefa dos caçadores buscam é outra “matança”, suficientemente grande para encherem suas bolsas. Não consideram seu dever assegurar o suprimento. Se os bosques ficarem vazios estes se mudam.
Agora somos todos caçadores, ou compelidos a agir como tal e é evidente que num mundo povoado principalmente por caçadores, há pouco espaço para devaneios utópicos, se é que existe algum. E assim mesmo se alguém soubesse como melhorar o mundo e assumisse plenamente a tarefa de melhorá-lo, a questão verdadeiramente intrigante seria: quem tem recursos suficientes e é forte o bastante para fazer o que precisa ser feito...
Essa expectativa era investida na autoridade soberana dos E.U.A.
Vivemos um tempo de fuga, de descarte: as pessoas apegadas às roupas, computadores, celulares e cosméticos de ontem representariam um desastre para uma economia cuja principal preocupação, e condição sine que non para sua existência, é a rapidez com que os produtos vendidos e comprados são jogados fora. E nessa economia o despejo de lixo é a indústria de vanguarda. Você não espera seriamente fazer do mundo um lugar melhor para se viver; não consegue sequer tornar realmente seguro aquele melhor lugar do mundo que resolveu construir pra si mesmo. E a insegurança veio pra ficar, não importa o que aconteça.
O tipo de vida colocado em movimento e impulsionado pela compulsão à fuga: a sorte dos perdedores reconhecidos, dos pobres eliminados do jogo do consumismo, é uma vida de rebelião esporádica, porém mais comumentemente do vício das drogas. “Em geral, o homem que injeta heroína em suas veias o faz, em grande parte, pela mesma razão que você compra um vídeo.” Disse Brodsky em 1989.
O sonho de tornar a incerteza menos assustadora e a felicidade permanente mudando o próprio ego, e de mudar o ego trocando de vestido, é a “utopia” dos caçadores – uma versão “desregulamentada”, “privatizada” e “individualizada” das antigas visões de boa sociedade. A caça é uma atividade de tempo integral, que consome muita atenção e energia, deixa pouco ou nenhum tempo para qualquer outra coisa. Desvia nossa atenção da eternidade da tarefa e adia para as calendas gregas o momento de reflexão em que se deve enfrentar francamente a impossibilidade de a missão um dia ser cumprida.
O que as pessoas querem é “ser desviadas de pensar no que elas são.. por uma nova e agradável paixão que as mantenha ocupada, como o jogo, a caça, algum espetáculo empolgante...” Mas o problema é que tendo feito isso uma vez, a caça se transforma em compulsão, vício e obsessão.






         
Leandro Moreira da Luz é aluno do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão – período 2/2015.

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