quarta-feira, 1 de julho de 2015

Fichamento (BAKHTIN): Estética da criação verbal.



BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2. Ed., São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 201-220.


p. 201 § 1
“... o homem é o centro do conteúdo-forma a partir do qual se organiza a visão artística... homem dado nos valores da sua atualidade-presença no mundo... vemos as coisas e as relações – de tempo, de espaço, de sentido – existentes ao seu redor, tornarem-se constituintes artísticos significantes.”

p. 202 § 1
“... O eu e o outro constituem as categorias fundamentais de valores que pela primeira vez originam um juízo de valor real, e esse juízo, ou, mais exatamente, a ótica axiológica da consciência, manifesta-se não só pelo ato, mas também pela menor vivência, pela mais simples senseção...”

p. 202 § 1
“... chegamos à ideia de que apenas o outro, como tal, pode ser o centro de valores da visão artística e, por conseguinte, ser o herói de uma obra...”

p. 202 § 1
“... A relação de valor consigo mesmo é estaticamente improdutiva, e para mim, sou esteticamente irreal.”

p. 203 § 1
“...eu mesmo, em minha determinação, só posso tornar-me sujeito (e não herói) de um único tipo de discurso: o da introspecção-confissão, cuja força organizadora se deve a essa relação de valor mantida consigo mesmo e que, por isso, é um gênero totalmente extra-estético.”

p. 203 § 2
“... O autor só se aproxima do herói quando sua consciência está incerta de seus valores, quando está sob o domínio da consciência do outro, quando reconhece seus próprios valores no outro que tem autoridade sobre ela...”

p. 203 § 3
“... a obra de arte é um acontecimento artístico vivo, significante, no acontecimento ´nico da existência, e não uma coisa, um objeto de cognição puramente teórico...”

p. 204 § 1
“...o autor ocupa a posição de responsável no acontecimento existencial; ele lida com componentes desse acontecimento, e por isso também sua obra é um componente do acontecimento.”

p. 204 § 2
“...o artista é precisamente aquele que sabe situar sua atividade fora da vida cotidiana, aquele que não se limita a participar da vida  (prática, social, política, moral, religiosa) e a compreendê-la apenas do seu interior, mas aquele que também a ama do exterior...”

p. 205 § 1
“... O autor, em seu ato criador, deve situar-se na fronteira do mundo que está criando porque sua introdução nesse mundo comprometeria a estabilidade estética deste...”

p. 205 § 1
“O autor é orientado pelo conteúdo (pela tensão ético-cognitiva do herói em sua vida) ao qual ele dá forma e acabamento por meio de um material determinado... distinguiremos na obra de arte... três elementos: o conteúdo, o material, a forma...”

p. 206 § 1
“... o artista trabalha com a língua, mas não enquanto língua; ele a supera enquanto língua, pois não é em sua determinação linguística (morfológica, sintática, lexicológica, etc.) que ela deve ser percebida, mas no que a torna um recurso para a expressão artística...”

p. 207 § 1
“...Superar a língua como se supera a matéria física só pode ser feito de forma imanente; não se superar a língua negando-a e sim propiciando-lhe um aperfeiçoamento imanente em função de uma necessidade determinada...”

p. 207 § 1
“... o ato de criação superam o material do mundo de uma forma imanente...”

p. 208 § 2
“... a consciência criadora do autor não decorre de uma consciência linguística (no sentido lato da palavra) que não é mais do que uma fase passiva da criação: a fase em que o material é superado de modo imanente.”

p. 208 § 3
“... a relação do artista com a palavra era uma relação secundária, funcional, condicionada por uma relação primária com o conteúdo, ou seja, com o dado imediato da vida e do mundo da vida, em sua tensão ético-cognitiva.”

p. 209 § 1
“... o estilo artístico não trabalha com palavras, mas com os componentes do mundo, com os valores do mundo e da vida... a substituição do conteúdo pelo material suprime o desígnio artístico...”

p. 209 § 1
“...O autor encontrou a língua literária e as formas literárias – o mundo da literatura e nada mais – e é este o terreno onde nascerão sua inspiração, o ímpeto criador que o leva a iniciar novas combinações e formas nesse mundo da literatura, sem sair dos seus limites.”

p. 210 § 1

“...É verdade que há obras concebidas e geradas unicamente no mundo da literatura, mas é raro que sejam discutidas em vista de sua absoluta nulidade artística...”

p. 210 § 1

“... Poderíamos dizer que são as formas da visão artística e do processo de acabamento do mundo que determinam os procedimentos literários externos, e não o inverso, é a arquitetônica do mundo artístico que determina a composição da obra... e não o inverso”

p. 210 § 1

“... cumpre lutar contra as formas literárias, velhas ou menos velhas, utilizá-las em combinações novas, superar-lhes a resistência ou encontrar nelas um suporte, mas na base desse empreendimento, está, determinante, a primeira luta artística contra a orientação ético-cognitiva da vida e contra sua tenacidade significante...”

p. 212 § 1

“O artista jamais inicia desde o princípio na qualidade de artista, ou seja, no começo ele não pode lidar com elementos estéticos.”

p. 213 § 1

“...Devemos sentir na obra a resistência da realidade do acontecer da existência; quando falta essa resistência, quando não se desemboca nos valores do acontecimento do mundo, temos uma obra inventada e carente de qualquer força artística de convicção... não há critérios objetivos, comumente acatados, que permitam detectar a objetividade estética, e a convicção é de ordem intuitiva...”

p. 214 § 1

“...A objetividade artística é a bondade artística...”

p. 214 § 1

“Chamamos estilo a unidade constituída pelo procedimentos empregados para dar forma e acabamento ao herói e ao seu mundo e pelo recursos, determinados por esses procedimentos, empregados para elaborar e adaptar (para superar de modo imanente) um material.”

p. 214 § 1

“...Uma exotopia aleatória não pode dar segurança; ora, um estilo não pode ser aleatório...”

p. 216 § 1

“...o artista é algo determinado – não se pode ficar artista, não se pode entrar nessa esfera delimitada; não se trata de superar os outros na arte, mas de superar a própria arte.”

p. 217 § 1

“... A Cultura estética é uma cultura das fronteiras... A utilização negativa dos elementos transcendentes... é condicionada pelo peso excepcional que uma vida confere, em seu interior, aos seus valores... e pela diminuição do peso... de valores dado à exotopia...”

p. 217 § 1

“...O elemento transcendente à vida é estruturado pela tradição... a perda das tradições revela sua insanidade, a vida rompe todas as formas por dentro...”

p. 218 § 1

“...O estilo como imagem unificada e concluída da exterioridade do mundo: a combinação do homem exterior, de seu traje, de suas maneiras com o seu ambiente de vida...”

p. 214 § 2

“A crise da função de autor também pode enveredar por um caminho diferente: a posição de exotopia pode pender a uma exotopia ética, perdendo sua especificidade estética...”

p. 219 § 1

“...O autor tem autoridade e o leitor precisa dele não como uma pessoa, como o outro, como um herói, mas como um princípio ao qual cumpre adequar-se...”

p. 214 § 1

“...A individualidade do autor enquanto criador é uma individualidade criadora e de uma ordem particular, não estética... O autor não pode, nem deve, determinar-se par anos como pessoa, pois estamos nele, vivemos sua visão ativa; é somente no término da contemplação artística, ou seja, quando o autor deixar de dirigir ativamente nossa visão, que poderemos objetivar nossa própria atividade vivida sob a sua direção...”

p. 220 § 1

“... O autor deve ser compreendido, acima de tudo, a partir do acontecimento da obra, em sua qualidade de participante, de guia autorizado pelo leitor...”




             
            Leandro Moreira da Luz é aluno da disciplina Literatura e outras linguagens: relações dialógicas no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Desenvolvimento da Universidade Estadual do Paraná. Campus de Campo Mourão – período 1/2014.

           

           

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