quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Projeto de leitura: (5) Ensaio sobre a Dádiva (Marcel Mauss) - Potlatch


O Potlatch sugere a Mauss outros insights, com o de jogo e aposta que, mesmo entre nós, são formas de Potlatch: neles "[...] empenham-se a honra e o crédito, não obstante, faz-se circular a riqueza [...]" (MAUSS, 1975, p. 99)

O Autor supõe também haver uma associação universal entre troca e sacrifício: "[...] destruir seria uma forma de dar, uma forma muito específica porque evita a retribuição [...]" (idem, p. 100). Do ponto de vista de quem doa, "dar já é destruir", logo um modo da regeneração social. Ao destruir tira-se a vida do objeto mas recria a do doador.  (no noroeste da América a destruição pode ser pelo fogo: queimam-se as casas do próprio grupo, ou atira-se cobres ao mar). 

Ainda analisando o Potlatch  Mauss nota a associação entre trocas e circulação de nomes. Dá-se um Potlatch para manter, ganhar ou recuperar um nome (geralmente nome de linhagem). Assim ganha-se reputação.

Nota-se que no Ensaio esses insights não se limitam ao Potlatch. Os estudos das trocas permitem relacionar o mana polinésio e melanésio ao homem da costa noroeste e à autoridade romana. Em todos os casos trata-se da associação entre honra e magia, prestígio e riqueza.

Seguindo em frente, ao mesmo tempo que o Potlatch pode gerar escravidão (idem, p. 105),  pode-se ainda,  dá-se um Potlatch para "resgatar cativos" (idem, p. 107). Em resumo, o Potlatch  indica como a dádiva pode ligar-se simultaneamente ao sacrifício, ao nome e à escravidão. Isso denota sua relevância para o estudo das sociedades desde a sociedade indígena amazônica até à Roma antiga. A autoridade é um conceito antigo que não apenas ou fortuitamente lembra o de mana: há em torno de ambos semelhantes "arcabouços institucionais". Assim o "nexum" (idem, p. 112) é um conceito romano que lembra a "escravidão por dívida" da costa noroeste, vale observar que em ambas "empenha-se o nome".

(É óbvio que Mauss está ciente que apenas inicia comparações possíveis à partir da noção da dádiva. Estas são bastante intuitivas e muito ousadas.) Em suas sinalizações Mauss Sugere que o Potlatch nos permite repensar o feudalismo europeu: perder um Potlatch significa se tornar-se vassalo. Em alguns casos, estabele-se que para vencer um Potlatch, isto é, tornar-se suserano, deve-se antes ter perdido, ter sido vassalo, recebido bens que seriam futuramente dados (idem, p. 105).

No entanto, um chefe que perde o Potlatch não perde totalmente sua autoridade. O perdedor teria duas possibilidades: a primeira seria, a partir dos valores que recebe e de outros que pode vir a acumular tentar ganhar outro Potlatch no futuro; e a segunda seria passar a ser um representante do vitorioso, ainda que tenha seu prestígio diminuído em relação a este.


Leandro Moreira é economista e aluno do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão - PR, período 2015.2

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