CARNEIRO, Ricardo. Crise, Ajustamento e Estagnação. A Economia Brasileira no Período 1974-89. Economia e Sociedade, Campinas, n.2, p. 145-170, ago., 1993.
Este é um artigo que analisa as razões da estagnação da economia brasileira nos anos 1980. Sinalizando que a perda do dinamismo, indissociavelmente vinculado à industrialização, da economia no período anterior a década em questão se dá pelo “insucesso do programa de ajustamento estrutural, na segunda metade dos anos 70; e, nos anos 80, a transferência de recursos reais ao exterior”.
O ajustamento estrutural condicionado nos objetivos de superar simultaneamente o subdesenvolvimento e o desequilíbrio externo consubstanciado no II PND através de um núcleo dinâmico endógeno_ o crescimento determinado pelo investimento doméstico, autônomo ou induzido pelas relações intra-industriais, propulsor de crescimento, centrado nas indústrias de bens de capital e de bens intermediário _ revela a “herança” deixada no período 1974-80, isto é, o período anterior ao fator principal de análise. O autor também revela que, além deste insight, ainda há hipóteses de outros dois fatores determinantes: o “drive exportador” e a “substituição de importações”. Se observarmos este último veremos que a dinâmica seria ditada pela internalização de segmentos relevantes à indústria redundando numa baixa do coeficiente importado e, no caso do “drive exportador”, seria a competitividade externa que faria com que o mercado interno respondesse dinamicamente. No entanto, tais “hipóteses” são negadas pela observação de vários autores de que “não há uma redução estrutural do coeficiente importado nem tampouco uma ampliação tendencial do coeficiente exportado”. Desse modo, o crescimento estendido em meados da década de 1970 até 1980 só pode ser entendido a partir do investimento autônomo liderado pelo Estado através do II PND.
Os anos 1980 são caracterizados pela estagnação e pela instabilidade expressada na “curta duração de ciclos econômicos com breves períodos de expansão e retração” das variáveis macroeconômicas. Tendo como aspectos importantes o crescimento negativo dos investimentos, a redução da propensão média a consumir e os superávits comerciais obtidos de forma sistemática apesar da deterioração dos termos de troca, gerados compulsoriamente para servir a dívida externa. Os fatores a ressaltar no que tange ao investimento são o parco investimento em máquinas e equipamentos relacionados à “modernização”, isto é, destinados a elevar a produtividade sem alterações substantivas na capacidade produtiva (em torno de 5% do PIB). O decréscimo sistemático dos investimentos do setor produtivo estatal (7,5% a.a.) e o crescimento nulo do gasto público em infraestrutura e dos investimentos privados. E o encarecimento do investimento dado pela desvalorização do câmbio, o aumento da taxa de juros e os ciclos recessivos. No entanto, o autor observa um comportamento inverso na agricultura e aponta como fatores a importância do mercado externo, a redução dos principais custos de produção decorrente da estagnação e do barateamento do petróleo e a substituição da política de crédito subsidiado pela política de preços mínimos que sustentou e estabilizou a renda agrícola. Quanto aos dados sobre o consumo é colocado no artigo que estes tem um padrão semelhante ao da indústria de bens intermediários e sinaliza que os dados médios escondem situações subsetoriais bastante distintas que devem ser mais examinadas. E, por fim, no que se alude à inserção externa podemos observar a transformação da pauta de exportação que refletem as mudanças na estrutura produtiva e a desarticulação do padrão de crescimento que ocorrem a partir da segunda metade da década de 1970. Se analisarmos a balança comercial poderemos notar a existência de subperíodos como, entre 1981-83 a inversão do sinal da balança num contexto de recessão doméstica. No período 1983-84 o superávit é crescente, coincidindo com a drástica recessão doméstica de 1983 e o início da recuperação em 1984. Posteriormente, 1985-86 o valor do superávit é estável, havendo um decréscimo do saldo em meados de 1986-87 e nos anos 1988-89, a recuperação do quantum, acompanhada de uma melhoria de preços, explica a boa performance do valor exportado. Há de se frisar que há um esgotamento da capacidade produtiva doméstica em face do crescimento da sua absorção nos bens intermediários e em alguns segmentos de bens de consumo, exatamente os que possuem elevado coeficiente exportado e participam decisivamente na pauta de exportação.
Por fim, observa-se como supracitado, que as razões da estagnação da economia brasileira nos anos 1980 estão relacionadas ao “insucesso do programa de ajustamento estrutural na segunda metade dos anos 1970”, isso se dá pelo fracasso de constituir um novo padrão de crescimento assentado na indústria pesada e na sua desarticulação da “nova indústria de bens de capital” com os demais setores da economia enfraquecendo as relações interindustriais. Desse modo, vários setores industriais voltam-se para o exterior devido a perda da dinâmica do mercado interno que impõe um elevado grau de ociosidade. E, também “a transferência de recursos reais ao exterior”, nos anos 1980, isto é, os serviços da dívida externa impuseram a geração de superávits comerciais acentuando o desequilíbrio e contribuindo para afundar e desarticular o padrão de crescimento.
Leandro Moreira da Luz é aluno da disciplina Economia Brasileira no Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá – período 2/2011.

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